segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Prazeres de Ano Novo


Ânus. Sirva-se gelado ou a ferver. Sugue-se, sopre-se, aumente-se, diminua-se, alargue-se, estreite-se, estique-se, encolha-se. Não se use se não aprouver, faça-se todo o uso necessário, se necessário for. Está desprovido de leis naturais, não tem género garantido, pode servir tanto a ordem como a desordem humana.
Substituiu o B52, já démodé, e podem solicitá-lo pelo nome de BXVII.
Enjoy it... if you want to!

domingo, 28 de dezembro de 2008

És linda, melhéir!



Há já alguns dias que, desde esta minha galáxia, dou por mim alcoolizado por um espécime estranhíssimo que anda por aí, perto de vós, vestindo umas saias em desuso, com uma cara terrorífica e uma boca medonha de onde saem os vapores que me alcoolizam. A receita dos rasquíssimos vapores está aqui.

Na minha galáxia vivemos mais de factos do que de vapores destes e, como tal, não percebemos nada dessa coisa de “lei natural”, de “respeito pela criação do homem e da mulher”, de “destruição da obra de Deus”. Percebemos mais da linguagem da criação de nós do que desse tal Deus, que não tem feito grande coisa, mas vocês lá saberão melhor do que fala este espécime. É estranho, mesmo estranho o que ele vaporiza, com uns bafos de “protecção da espécie como a protecção das florestas”. Isso inclui proteger este espécime? Ai, credo! Agora fiquei mais alcoolizado!
Acho que nesse ano em que vão entrar, um tal de 2009, já passou tempo a mais para que estes bafos continuem a rodear-vos, mas talvez vos dê uma moca tão forte como a que o espécime me deu a mim. Se servir para isso, pode não ser mau. O pior é que podem ficar demasiado tempo emborrachados se ele for protegido. Cá por mim, vou continuar a expurgar todas as manhãs a lei dessa tal “natureza”, a assediar quem me apetecer com o orifício (belíssimo) com que costumo expurgar-me, a usar outros orifícios para esse e outros efeitos e espero que dêem um banho de loja ao espécime. Pode ser o começo de uma coisa menos má, com tudo o resto que terão que fazer para deixarem de viver aterrorizados. Sejam felizes, meninas, como homens, como mulheres, como qualquer coisa que se pareça (ou não) com isso, desde que se pareça com o que melhor vos fizer à alma.

Mas vos peço, só isso vos peço, que façam tudo o que a estranha personagem não quer, ou que não façam o que ela quer.

Vão ver que vale mais a pena do que terem pena de se deixarem ir em semelhantes penas.

Até ao próximo ânus! ;-)

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Pai Vosso que Estais aonde?


Pois eu cá, na tão ínfima parte que me toca, não cessarei de me opor à penalização do Vaticano, nem deixarei de defender a erradicação do mesmo, enquanto continuarem (e o tempo já vai sendo tanto que dá nojo) a dizerem coisas tão estapafúrdias e perigosas como estas. Ou seja: a certeza é a de que mesmo que viva cem anos vou ter que manter a minha posição, porque está visto que cem anos são nada, ao lado de uma merda tão longa na História.

Por mim, que se vão catar, que eu até nem gosto do sabor a hóstia. Aghhhhhh!

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Razões Actuais em Frágil Texto


Facto: 60 anos tem a Declaração Universal dos Direitos do Homem. Sou relembrado da efeméride pelo bom artigo do Público de hoje, que começa por denunciar tratar-se de um texto actual pelas piores razões. Certamente que sim, dando desde logo que pensar que seis décadas fazem das muitas mudanças que a mesma Declaração desejou um sopro tão opaco quanto lento. Porque contido está nela o ensejo de assegurar o direito a ter direitos, que o mundo continua a mostrar-nos como (tão gravemente) não cumpridos, como necessitados de real consagração no papel e no quotidiano. Neste palco de não-factos continuados, bem refere José Manuel Pureza que mais do que o nunca mais é o exaspero de todos os ainda nãos que o sexagenário documento nos obriga a recordar.
Diz ainda Pureza que toda a Declaração está por cumprir – e pois certamente que o estará, se a esmagadora parte de nós tão pouco a conhece, tão pouco a leu e, se a leu, razões terá tido para esquecê-la ou para menosprezá-la perante o espectáculo desumano que diariamente nos dá o mundo. Dei por mim a pensar que é talvez a ausência de consciência colectiva e pessoal de direitos que em primeira mão ameaça a Declaração. Como dei por mim a pensar que as recorrentes referências da ciência política à necessidade de equilíbrio entre direitos e deveres para que a cidadania se cumpra me colocam reservas: porque de direitos temos ainda visto tão pouco e porque para os deveres temos ainda que encontrar mais profundos significados.
Pensei igualmente que documentos assim só podem servir-se acompanhados de uma inquietude: a de corajosa e perseverantemente nos inquietarmos com o que não pode estar quieto. Não podem estar quietos o olhar e o sentir perante a ininteligibilidade humana, como não podem está-lo perante a evidência do desumano.
Sem isto, a referida Declaração corre perigos de se perpetuar como doloroso e inglório ensaio sobre a cegueira.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Mestiça Salamanca


Salamanca foi destino. Como sempre, refez-me o coração, aquecido em tanto frio pelo presente quente de M(i)M(i). Ficam repetidamente as imagens das rendas que cobrem os maravilhosos edifícios, ficam os círculos sociais que invejo na sua “movida” mesmo sendo a cidade pequena, ficam as (enviesadas) saudades que o país vizinho não desiste de me provocar.
Mas fica também o recuerdo de um artigo assinado por Armas Marcelo no diário ABC, tendo por título A Leitura da Crise. Não é que me tenha trazido algo de verdadeiramente novo, mas trouxe-me algumas reflexões que um excerto como o que se segue pode comprovar como fortes e desafiantes: “tenho para mim que muitos dos actuais protagonistas da cultura crêem que o multiculturalismo é uma cultura por cima de outra, todas em paz e dançando uma rumba internacionalista e não, como de facto é, o inimigo maior da integração e da mestiçagem. Sem a mestiçagem não vamos a lado nenhum no presente nem no futuro, tal como não teríamos podido chegar a nenhuma parte no passado. Sem a mestiçagem chegamos ao limite nacional, bailamos e cantamos o nosso folclore e, contentes com a guerra, vamos de seguida para casa alimentando a mentira. A Humanidade é mestiça e a cultura é filha de mil pais que foram acumulando, fusão sobre fusão, os seus conhecimentos e a aplicação destes até chegarem ao mundo de hoje. A mestiçagem, esse inimigo do multiculturalismo, é a integração e a contaminação benéfica, opõe-se à fronteira e tende, irreversivelmete, a atrair os necessários contrários”.
Porque também eu havia já mostrado a minha comoção com a mestiçagem, com o que ela nos pode dar de salvação e com a bárbara limitação que tantas pessoas lhe impõe.
Espanha é-me de coração, inclusive por nela haver quem se pronuncie sobre o que a tod@s nos cabe pronunciar.

Olé!

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Que seja por muitos...


Pois não é que o Via Fáctea faz hoje um aninho? Houve tempo para abichanar, abraçar, acordar, agradecer, alegrar, amar, concordar, denunciar, desmontar, elogiar, encorajar, escutar, festejar, ironizar, libertar, rabujar ou relembrar. Houve ainda tempo para perceber que há factos sem etiqueta possível. E o desejo é o de que outros factos se juntem aos já etiquetados, bem como a outros que possivelmente venham a merecer novas (mas sempre tendenciosas) etiquetas. Umas vezes com mais, outras vezes com menos “etiqueta”.
Bem-haja.

sábado, 22 de novembro de 2008

Noite


Apeteceu-me apenas dar um beijo à noite. Depois de um dia em que um casamento teve a bondade de me devolver a saudade do meu amor, em que um anjo de olhos claros se sentiu a quase terminar um projecto comigo, em que dois amigos fizeram as rosas menos escuras só por estarem ali, na celebração (das torturas desvanecidas) de uma tese e na oferenda de uns líquidos etílicos, em que afinal a vida mais uma vez comprova que o que tem de melhor são os momentos oferecidos à desmistificação do insuportável.
Mesmo que amanhã me desapareça toda esta (hiperbólica?) felicidade, o beijo à noite terá tido sempre o seu merecimento.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Mendonzismo



É facto que não paro de me surpreender com (alguns) livros e/ ou com (excertos) que neles encontro. Desta vez, a surpresa veio, tão agradavelmente, a certa passagem de uma história leve – O Mistério da Cripta Assombrada, de Eduardo Mendonza. Digam lá (assumo a veia psicológica) se não ha nisto uma imensa beleza, daquelas que nos retratam como humanos…

É na verdade curioso – disse – como a memória é o último sobrevivente do naufrágio da nossa existência, como o passado destila estalactites no vazio da nossa sentença, como a paliçada das nossas certezas se abate perante a brisa da nostalgia. Nasci numa época que a posteriori penso que é triste. Mas não vou fazer agora história: é possível que toda a infância seja amarga. O transcurso das horas era o meu lacónico companheiro de brincadeiras e cada noite trazia consigo uma triste despedida. Daquela época, lembro-me que atirava com alegria o tempo pela borda fora, na esperança de que o globo levantasse voo e me levasse para um futuro melhor. Um louco desejo, pois seremos sempre o que já fomos”.
Quem escreve assim…

PS – não sei que me deu, que Espanha tem andado a remoer cá entre os factos!

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Puta Verdad...


Nem a propósito das (minhas) relutâncias às “Sofias”, e a contrapor as respectivas maleitas, eis a minha mais recente descoberta musical (mas não só!). Adoro, e adoro e adoro. Trouxe-me um fôlego renovado, uma crença de que somos bel@s de muitas maneiras, mas sobretudo quando somos da maneira que somos. Gostar-se ou não do estilo musical é, digo eu, indiferente para o caso. O magnífico YouTube encarrega-se de nos dar o regalo de acedermos as gentes belas nas muitas versões em que, ao se desdobrarem, não perdem a continuidade do que fazem e do que acreditam. Busquem-nas, se gostarem tanto como eu (ou se não gostarem).
E é genial, a fazer da sua beleza a manifestação viva do que lhe vai na alma, tornando risível (mais) um ignorante entrevistador, porque “nunca entrou em armários que já estavam cheios demais”. :-)
Gracias, Falete.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

La Raina muy de Lejos!


Sua (obviamente não minha, mas de quem a quiser!) Majestade, a Rainha D. Sofia, estava desejosa de ser contemplada neste Blog. Mostrou-o nos factos das suas majestosas palavras (o problema é mesmo esse, terem sido majestosas) sobre vários assuntos, tendo eu ficado majestosamente encantado com dois: a violência doméstica e o casamento entre pessoas do mesmo sexo. São, entre outras, duas pérolas brilhantes que lhe ficarão na coroa. Quanto à violência doméstica, o brilho da pérola é a sua insistência na (ignorante e, portanto, conivente) alegação de que há insistência sobre o assunto por parte da comunicação social. Não admira: são setenta anos em que a senhora se habituou à violência privada de se fazer, com os seus, tão privada. Para depois se fazer pública a dizer o que não deve, quando governa um dos reinos onde mais mortes se contam entre paredes, umas mais faustosas, outras menos, mas todas elas infelizes, por definição. Argumenta a monarca que falar-se sobre o assunto, “pode ser contagioso, dando-se ideias a outros que imitam” a barbaridade. Sendo assim, há que depreender que também a sua querida família, que mesmo estando no trono não deixa de ser humana, está sujeita às tais imitações, a ter ideias que não deve, a contagiar-se. Falta saber, em potencial de contágio e de imitação, quem agredirá quem (embora isso não interesse para o caso, que é mau em qualquer caso): Letícia, Filipe, Juan Carlos, os rebentos e a própria Sofia estão aptos, a qualquer momento em que leiam um jornal ou liguem a televisão, a atirar sobre outrem, a espancarem-se, a serem pérolas monárquicas do contágio. Lá saberá a rainha que ideias e/ou que actos se têm desenvolvido entre as paredes do Palácio Real!
A dita senhora consegue, pelo menos, ser consistente com o que diz. Porque na mesma linha de pensamento opina sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Que se durma na mesma cama quando se tem “outra (?) tendência (?) sexual (?)”, mas que se fechem as cortinas para que Espanha mantenha o decoro. Diz que não empatizou com Aznar, o que me leva a imaginar que deve sua Majestade correr riscos bulímicos quando se acerca de Zapatero. Indignada porque há quem sinta orgulho por ser gay (a gente percebe, porque orgulho é coisa que nunca caberia a uma Rainha!), porque os gays sobem para um carro e saem em manifestações (a gente percebe, porque subir a um carro e ter milhares de acenos manifestantes de embevecimento é coisa que nunca caberia a uma Rainha!), porque se vestem de noivos e se casam (a gente percebe, porque vestidos de gala e caudas gigantescas de casamento são coisas que nunca caberiam a uma Rainha!), a pobre (de espírito, como é óbvio) deve a-do-rar o José Luís, ainda mais quando diz que tudo isto vai contra as leis do país que lhe veste a coroa, leis que o José Luís em nada suportou!
O assunto esgota-se no maior favor que a Rainha começa por fazer a si mesma e, em seguida, a quem tem dois dedos de testa (que é coisa fácil perante a dela, imensa em extensão, minúscula em serviço): o favor de dizer que “se todos os que não somos gays saíssemos em manifestação… entupiríamos o tráfego”. Ó Sofia, a questão é que já entopem: o tráfego, as vontades homofóbicas como a tua, os números das mortes acontecidas sobretudo entre os únicos casais que reconheces como dignos de tal nome, a montanha de violências sobre gente que tem tanto direito a vestidos como tu e, talvez acima de tudo, as filas para compra do livro em que acedeste expor (para mim, em jeito de Real violência pública) as baboseiras com que nos presenteaste.
God Shave the Queen!

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Sonho Meu, Sonho Meu




Hoje o sonho foi-me presente. Leia-se: presente de dádiva e presente de agora. Foi um sonho em que o mundo se fazia de homens que eram somente o que a alma lhes ditava. Lindos na basculante atitude do pulso, nas flores que não podiam largar do colo para que a existência lhes perdurasse, nos cigarros imensos que seguravam em boquinhas delicadas, nas plumas que ofereciam à lembrança do meu adereço favorito, no dizerem que estavam comigo a efervescer no que sempre haviam sido e na perpetuação do que continuariam a ser. Lindos no sábio esquecimento do que lhes haviam ensinado sobre “homens” e sobre “mulheres”, lindos a retocarem com batom estes maus ensinamentos. Sábios, muito sábios de si na mimosa rejeição de semânticas que não as deles. Sussurravam a verdade das suas verdades sem que o pulso se importasse, sem que as flores murchassem, sem que a boca ou o cigarro fossem rudes, sem que as plumas deixassem de esvoaçar. Foram falando nas agruras da abominável designação do pulso abominado, foram sorrindo na crença de que verdadeiros são os homens que sustentam as flores quando as desejam. Lembraram-me a rudeza que têm as bocas que não se entregam à delicadeza. Presentearam-me na pose revigorante dos cigarros roubados aos filmes de Marlene, no ar que respiravam, todo feito de plumas e de fumos. Quando permitiram que entre eles me sentasse, soube o quanto me faltou para ser um homem. Faltou-me a recordação mais viva que o quotidiano continua a cortar pulsos quando não admite genuinamente os pulsos. Faltou-me cheirar mais, muitas mais flores. Faltou-me um não mais afirmado à impossibilidade dos cigarros, aqueles cigarros que não querem que eu fume ou que querem que eu fume como querem ver-me fumar. Faltou-me uma boca mais delicada do que a que todos os dias nos põem na boca. Faltou-me um manancial de cores que ainda falta às minhas plumas. Faltou-me ser tão sábio como eles.
Tudo isso me faltou para que o sonho fosse mais um presente (de dádiva) e menos o presente (do agora). Faltou-me mais dádiva de mim e de quem gosto. E faltou-me um pouco mais do que o agora, porque estes lindos e estes sábios estão ainda demasiadamente confinados aos sonhos.

domingo, 26 de outubro de 2008

My Lovely Cidália


É-me definitivamente uma escritora querida.
A brincar, a brincar…
Thank you, Cidália.


"[A respeito da introdução de dedo(s) no(s) ânus] Os homens – muitos deles, põem de facto mais entraves ao sexo na hora da loucura. Ou bem que estão bêbados e depois nem se lembram do que fizeram (será que não?) ou então o medo de verem a sua masculinidade beliscada corta pequenas extravagâncias que podem fazer a diferença. (…) O que é bom na vertigem do sexo é o momento em que deixamos de ter género, idade, corpo, e passamos a ser um amontoado de carne quase indiferenciado mas disposto a tudo. Eu gosto desses momentos em que nos perdemos. E como alguém dizia há dias: a natureza humana é ambígua…
(…) Não temam o desconhecido, mesmo que o desconhecido seja só um dedo no bolo. Se considerarem isto “prevaricar”, então prevariquem. Não leiam só nos livros e nas revistas. Concrectizem. (…) O único risco é haver quem peça um dedo e queira o braço..."


O Polegarzito

O Sexo e a Cidália, Notícias Sábado, 25 de Outubro de 2008

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Mal-Criar


“A Associação Portuguesa de Famílias Numerosas mostrou profunda consternação pela aprovação da nova lei do divórcio, estando certa de que com esta lei os divórcios dispararão em flecha e que os valores da família passarão a ser totalmente desvirtuados”.
Jornal Metro, 21 de Outubro de 2008

Perguntas: sendo associação, porque é que acreditam tão pouco no que defendem, que é a força da família!? basta-vos uma mudança na lei para que toda essa força vá pelo cano abaixo!? sabem que a referida lei não manda (que as pessoas se divorciem), apenas facilita (o fim do mal-estar)!? perceberam que ninguém desvirtua a família (numerosa ou não), mas apenas a defende contra valores nada recomendáveis!? que é assim que a associação consegue ser mais frágil que a família!?

E porque é que não disparam uma flecha pelo cú acima a ver se se calam um bocadinho?

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Belos Factos Solnádicos


Facto: nunca achei piada ao senhor (e depois do que li, mais senhor o acho) nos seus dignos esforços de nos alegrar. Facto: isso não vem ao caso. Facto: os bolds que coloquei na transcrição não deixam margem para a mais mínima dúvida quanto à verdadeira, genuína e lúcida capacidade afirmativa do senhor. Facto: o sorriso que costuma assomar-lhe ao sereno rosto é mesmo sinal da valorização que faz da felicidade e que quer ver distribuída justamente por outras pessoas. Facto: a genuinidade, como se vê, é mesmo uma questão de aceitação. Facto: temos lição de cidadania, simplesmente porque cada um de nós tem que ser respeitado (para quê dizer mais?). Facto: Melhor tacada aos (agora digo eu: ditos) políticos não podia haver. Facto: o senhor percebe e traduz o Princípio da Igualdade de forma brilhante, porque imediata. Facto: fecha a entrevista com a prova mais cabal do que diz entender, porque a adopção em nada lhe faz confusão. O entrevistador é que não foi capaz de acompanhar a rapidez intelectual do senhor, porque não havia que perguntar se adoptar lhe provocava mais dúvidas (o que vinha antes, já o senhor tinha mostrado, não lhe colocava dúvida nenhuma, logo não havia que perguntar pelo mais). Via que proponho: um wokshop obrigatório com o senhor na Assembleia da República, o mais rapidamente possível.

Raul Solnado em entrevista à Notícias Sábado, 145, 10 de Outubro

Defendo o casamento homossexual”

- sei que o casamento entre dois homens ou entre duas mulheres faz confusão a muita gente, mas para mim o que é importante é que duas pessoas sejam felizes;

- aceito [o casamento entre homossexuais] porque entendo. A gente não pode entender se não aceita. Entendo lindamente. Não me faz confusão nenhuma que duas pessoas do mesmo sexo se amem […]. E cada cidadão tem que ser respeitado.

- Estamos em ano pré-eleitoral. Só falta vontade política.

- As pessoas não são melhores ou piores consoante a sua orientação sexual.

E a adopção provoca-lhe mais [?] dúvidas?
Não, nada. Há tanta criança abandonada que vai ser perdida… não percebo, sinceramente. Dois homossexuais ou duas lésbicas podem dar tanto amor como uns pais ditos normais. Isto vem nos livros, estou farto de ler estudos sobre isto. É tudo uma questão de hábito. As crianças precisam é de amor e carinho.

domingo, 19 de outubro de 2008

Lusitana Putice


Por muito que se batalhe na defesa argumentativa da necessidade de reforçar a confiança na política e nos políticos, caem por terra muitas dessas frentes de batalha depois de tão somente visualizarmos uma montagem no celebríssimo YouTube (bastando clicar aqui). De ironia carregadíssima, de humor evidentemente nutrido por uma selecção intencional para dar imagens às palavras do fadista, de uma apreciação que tem os limites que se lhe podem, como é claro, apontar. Mas não há como negar que a sucessão encaixa na perfeição, o que diz coisas sobre as tantas não-coisas a que estamos a assistir. E me parece que é facto a que não podemos fugir, numa via em que cada vez mais derrapamos sem saber onde irá dar. Parabéns (e muitos) a quem realizou esta apresentação.



Nota: o título deste post não se quer ofensivo, ao contrário do que soa à primeira leitura, apenas joga com as palavras que cantam sobre quem nos ofende. E não, evidentemente que não nos ofende quem faz préstimo do seu corpo a quem o procura. Quem nos ofende é quem procura pôr-nos no prelo o corpinho e a alminha que já nem sabemos se temos. :-)



Vejam o vídeo, vejam...

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Que não nos Valha o Magalhães!


Ah! E se a mesma pedagogia se declarar obrigatória para aulas de Educação Sexual? Que cantar e que encenar?

Isto é mesmo a macacada…

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Des-Branquear Serralves




Arrogante seria assumir que se traz a esta Via uma verdadeira reflexão sobre o que foi a delícia de escutar, numa proximidade possibilitada pelo discurso com que nos brindou, Judith Butler no branco de Serralves. Com ela se percebeu em carne viva que a reflexão reivindica sempre ser reflectida. Com a sua interrogação do que primitivamente nos escusamos a interrogar, Serralves diluiu o branco nas cores por ela tão singularmente afirmadas como potencialmente infinitas no que fazemos de nós. A percebermos os negros da democracia “democraticamente” imposta dos dias que (não) correm, a nos devolvermos o que em cegueira fingimos enterrar: a vulnerabilidade de nos dizermos globalmente responsáveis em tempos de (teimosíssima) Guerra, em escolhas impossivelmente democráticas, terrificamente mediatizadas, estatalmente infligidas de quem deve ou não aceder ao reconhecimento de si. O discurso continua a levar-nos, com ela, ao sentido do não-sentido que é guerrear, torturar, matar “pela paz”. A fazer de nós os peixes estonteados de uma rede tão assustadoramente emaranhada que dita quem pode e quem não pode ser grievable, para nos ofuscar a necessária consciência generalizada da precariedade. Mais me tocou a serena forma com que acusou que é nesta precariedade que se impõe reconhecer o poder masculinista que impõe a vida e a morte, que a ligação de nós com o “nós” se sujeita assustadoramente a quem emerge ou a quem submerge numa (qualquer) reconhecida existência. Porque, e aqui o coração bateu-me, não há como não ter a realidade de caminharmos num autocarro com quem não conhecemos. Numa estrada que só terá caminho iluminado, mais policromático do que o branco de Serralves, na permeabilidade dos selves, numa identidade cooperante e na sociabilidade. Os búzios do mar em que nos convidou a entrar, assobiaram-me que é no “eu” perdido entre todos os “nós” que, afinal, talvez tenhamos caminho para nos encontrarmos e para que possamos saber quais os nós com que poderão construir-se redes que não nos sufoquem nos seus emaranhados. Duas linhas me sobressaíram ainda no branco do Museu: a da troca com Miguel Vale de Almeida e a da oferenda de António Gedeão por um elemento da plateia que entendi reconhecido por Butler, em oposição ao masculinismo e na adjectivação de wonderful sobre a oferenda. Nada poderia ter sido melhor para comprovar que vive o que profere.

domingo, 12 de outubro de 2008

Sobrevoar em Escuta


Quando ouves, sobes ao céu, desces aos vales da solidão acompanhada, viras e reviras tudo o que julgavas conhecer da vida, dás por ti a esvoaçar as planícies sobre as quais queres pairar mesmo que não saibas o que dali virás a avistar, enches o coração de lembrança e de sonho acordado, lacrimejas na sombra presente do amor que te trouxe até esta prenda, pões-te em causa nas causas que a vida julgou ensinar-te, agradeces a uma deusa tocante a graça que o seu coração lhe sabe reflectir nas mãos, repetes a experiência, questionas se é já um vício, não ressacas se o for, alimentas-te de uma outra forma de alimento, fechas os olhos e, enfim, vês o mundo mais cheio do que aquele em que todos os dias te moves em esquecimento de uma música assim.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Schizoland


Nós devíamos ser a favor, mas somos contra. Somos muito a favor, mas não podemos ser já. Nós devíamos dizer sim, mas por agora temos de dizer não. Nós sabemos que vocês têm que ter os mesmos direitos, mas isso não é coisa de maior importância numa democracia. Que está uma merda e, por isso, a gente acrescenta fedor à merda. Vocês são o fedor e a gente diz que um dia acredita que não sejam, mas não nos levem a mal e entendam-nos: declaramos sim, mas temos que dizer não. Nós somos assim: não somos nada, para fazer de conta que somos tudo. Estamos todos esquizofrénicos, fazemos de conta que não estamos e isso é já uma esquizofrenia. Somos ou não somos um exemplo de democracia? Claro que sim!

(imagem: Adrian Cousins)

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Agradecer-Vos


Há que agradecer-Vos, Senhores, pelo 10 de Outubro que prometeis oferecer-nos. A tant@s de nós que ainda vos críamos. Há que agradecer-Vos, por serdes tão grandes que não ousamos sequer alcançar-Vos nas intenções que nos demonstrais. É de todos os passados que se farão as Vossas magnificentes oferendas nesse dia. De todos os passados em que, mesmo repelid@s nos nomes que ousámos dizer, não necessitámos afinal de Vós para os termos ousado. Vireis lembrar-nos de todas as forças que não deixaram de assistir-nos desde que somos quem somos, porque jamais podereis deixar de falar de nós, mesmo que queirais calar-nos. O silêncio e o não, não sei se percebereis, são dizeres menos dignos, mas nem por isso pouco pronunciados. Como pronunciadas foram e são as negações que hoje continuamos a rezar na História e nas histórias. Por isso não ousamos alcançar o que alcançais Vós, que é fingirdes que a História não se inscreveu, que é julgardes decidir sobre o que decidimos nós há tanto tempo, que é pousardes sobre tronos de que nada servem, ao estarem demasiado altos para avistarem as tantas histórias de amor que à História não conseguireis roubar.
É também em todos os presentes que irão recair as Vossas magnificentes oferendas. Nos presentes orgulhos de não sermos como Vós, no orgulho de sermos como queremos que nos queiram, na vergonha da vergonha que nos tendes. Em todos os presentes que nos damos entre nós, quando nos unimos para Vos dizer que persistiremos, como “gentes nem remotas nem estranhas”, mas seguramente como remotas e estranhas a Vós, que remotos e estranhos sois à cidadania que havíeis prometido. Em todos os presentes constituintes de famílias numerosas, ideia que abençoais sem percebê-la, porque famílias enormes somos nós ao fazer do sangue coisa bem menor do que os laços que nos apertam. No coração e na boca que Vos mostramos sem que nos saibais sentir nem ouvir. Estais longe, muito longe, para sentir-nos e ouvir-nos e por isso há que agradecer-Vos quando nos sabemos menores do que Vós, mais tão mais chei@s de vontade de nos legislarmos nas intenções de resistência que nos fortalecem. Há que agradecer-Vos por estamos mais perto de todas as outras realidades que calais, negais ou fingis serem Vossas: as realidades das vergonhas que provocais em quem não considerais. Porque a Vossa cidadania é feita de gente remota e estranha à não-condição humana. O que nos dareis de tão magnificente oferenda é a possibilidade de pensarmos ainda mais do que já temos pensado no que pensarão, ao nosso lado, tod@s os que percebem a vergonha que nos tendes. Tende cuidado, Senhores, com o que ao fazerdes de nós dais de exemplo a outras gentes que nos transportam na pele porque também como não-gentes são tratadas. Dessas outras gentes estamos a falar-Vos sem que nos ouçais, dessas outras gentes deixámos de dizer que são “outras” ou não estaríamos a exigir o que exigimos, que é sermos presentes na presença plural, igualitária e cidadã que como mais pequenos conhecemos e sentimos sem ambicionarmos a Vossa insuficiente grandeza.
De futuro hão-de fazer-se ainda as oferendas que nos reservais. Quando pudermos contar o que deixastes Vós na História desse dia. Digais o que digais, calais o que calais, há-de servir a vossa oferenda para lembrar que mesmo na inquietude Vos lembrastes de nós. Que fracturantes fostes para nos garantireis que inteiros permanecemos. Que de tod@s os que aqui permanecermos não soubestes dar nem conta, nem medida. Porque em tanto negro demorastes sobre o que de há longe era claro: que de Vós tivemos vergonha, sem vergonha de vos arrancarmos a vergonha sobre nós. E que a cidadania não foi Vossa, mas de tod@s os que por ela fizemos. Para sabermos que havia tanto e tão pouco a fazer pelo que fomos, somos e seremos.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Ascoroso


Gonçalo da Câmara Pereira. Bastião da Tauromaquia, do marialvismo, do chauvinismo, da labreguice com a "nobreza" e a monarquia de dedo em riste. Triste. Estúpido, mais do que os touros que gosta de pegar. Porque gosta de dizer, com sorriso ascoroso em comentário de programa igualmente ascoroso que "a homossexualidade é doença, se pega, que é, como se costuma dizer, o que pega de empurrão”. Novamente risos em pose tauromáquica a dar cotoveladas noutro palerma chamado Cláudio Ramos, mas que ainda assim conseguiu ser menos palerma do que é costume ao afirmar que não, que não é doença (espanto… ou quem sabe se caminho de real afirmação). Um esterco que mostra que a "verdade" (a deste labrego e a de muitos outros) não compensa. Mais do que isso: faz mal, é perigosa, replica as inclassificáveis reacções que quotidianamente vemos repetidas. Porque, seja a redundância redundante, a "verdade" não é verdade. E é um nojo quando se diz verdade.
Pergunta seguinte: quando é que este esterco de programa é retirado do ar?

PS - Naturalmente, os touros não têm culpa do palermóide do Gonçalo e conseguem ser pintados a rosa, cor que não ficava nada mal ao palermóide. Não bastava era vesti-la, era preciso senti-la.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Com Graça Se (Des)Vagina


Susan Sarandon (...) não apoiou a candidatura de Hillary Clinton por não acreditar que “a resposta seja qualquer vagina, tem que ser a certa”.
Público, 01 de Outubro de 2008

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Os perigos de NÃO dar de fumar!


É a quarta (repito: quarta) vez que me acontece no espaço de dois meses. Enquanto caminho pela rua, vou fumando os meus cigarros (parece que nas ruas ainda nos deixam fumar), vou aproveitando para fazer algum exercício físico e para (nem sempre, mas com alguma frequência) ir olhando a cidade, nos seus espaços materiais e no seu preenchimento humano. Com frequência, abeira-se de mim gente e pede-me um cigarro (como a muitas e muitos de nós). Das quatro vezes em que os factos aqui relatados ocorreram, o tom do pedido foi o mesmo: delicodoce, miserabilista, pseudo-amigável, acompanhado de justificações infindáveis sobre a impossibilidade de comprar cigarros. Das quatro vezes exerci um óbvio direito, sem qualquer preconceito ou ideologia associados a quem me dirigiu o pedido: não dar. Das mesmas quatro vezes a reacção foi a mesma: cessação imediata do tom delicodoce, revés do miserabilismo pela agressividade manifesta, finalização das justificações e chorrilho de insultos que registei mentalmente: “roto do caralho”, “os paneleiros são sempre a mesma merda”, “deves fumar por outro sítio” e “ai, ai, ai, como ele mexe a mãozinha”. Daqui infiro que: (1) devo ter alguma coisa inscrita em mim que conduz a tais apreciações (tanto se me dá que tenha ou que não tenha), (2) por muito que seja desagradável ouvir o que ouço mais razões tenho para continuar a não dar, (3) sonho mesmo com um polícia em todas as ruas para me auxiliar no exercício do Princípio da Igualdade (além de todas as outras coisas pelas quais nos daria jeito mais policiamento), (4) o preenchimento da cidade vai sendo cada vez menos humano (nestas e noutras reacções a que estamos sujeitos) e (5) a exclusão é de facto muitas vezes suportiva de outras exclusões. Nada que a gente não saiba, mas que continua a moer e que se calhar nos leva qualquer dia a saber que FUMAR MATA… SE A GENTE SE RECUSAR A DAR DE FUMAR.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Cuidar


Cuidar tem implicações vocabulares que podemos roubar ao dicionário.
Se transitivo o verbo, é de imaginar, de supor, de meditar, de reflectir sobre algo ou alguém que o vocábulo se faz. Que se faz a necessidade de olharmos a sombra de quem ternamente nos sobrevoa e de lhe reconhecer a imaginação de não querer ser apenas imaginado, não ser apenas suposto, mas real, meditante e reflectido no amor que nos dá. Tenho em mim o vocábulo assim inscrito, ao tê-lo em carne e osso de um anjo.
Quando intransitivo, é de trabalhar, de tratar, de ter cuidado ou de interessar-se que se veste o verbo. Pelo que intransitivo é também o anjo, a trabalhar sobre o trabalho de um dia, para tratar com o cuidado que é tão seu, num interesse sem interesses, mas que interessa pela comoção que me assoma aos olhos.
No fim destas possibilidades vocabulares, é sobre nós que cuidar, assim dado pelos anjos, se pode fazer pronominal. Quando nos imaginamos (com os anjos), quando nos julgamos (sem bárbaros juízos que nos afastem dos anjos), quando nos acautelamos (no merecimento das asas), quando sabemos que damos trabalho. Que damos trabalho na exacta medida do trabalho a que nos dedicamos, para que o sopro sobre as asas as faça esvoaçar, sem nunca deixar que se quebrem.
A ti, anjo.

sábado, 20 de setembro de 2008

Antes fosse... Alegre


É facto que Alegre trouxe exactamente o que necessitávamos de ouvir. Não o que desejamos que seja dito. Mas que é exemplar no conteúdo. Exemplar de tão ignorante, nem mais nem menos do que ignorantes têm sido as posições da “maioria” (não sei o que a palavra significa!) parlamentar. Os “jovens socialistas”, canta o Alegre, estão mal, muito mal, porque defendem “temas fracturantes [e eles, os Alegres, a darem-lhe!] que estão na moda e depois passam”. Sim, seguramente mais na moda do que o Alegre, que é triste na sua obsoleta e pro-poética (e por isso pouco real) abordagem. Mas o que já me aborrece de morte (e nela não encontro sentido) é a pronta necessidade de justificação que os mesmos jovens se dão ao trabalho de lhe oferecer: a de já terem feito algo em prol das “outras” (também não sei porque são "outras"!) necessidades do país. Não, queridos. Bem sei que estamos fartos de saber que vos cabe defenderem a concretização de agendas. Mas não, a resposta mais pronta e verdadeiramente alegre não devia, digo eu, ser a que dão. A precaridade do emprego jovem, os manuais escolares necessários à aprendizagem, a redução de custos de trasporte, os estágios profissionais, todas estas coisas que o Alegre diz serem de “mais urgência” são grandemente beneficiadas pelos casamentos entre pessoas do mesmo sexo. É porque não fazem de conta que gostam umas das outras, é porque querem celebrar com sustentação jurídica os esforços de contribuição conjunta para o bem estar acrescido do país dos Alegres, é porque sabem que a precaridade laborar pode em muitos aspectos ser reduzida, é porque pretendem que os transportes tenham custos em pé de igualdade com os benefícios que a casais de sexo diferente são conferidos, é porque os bons manuais devem incluir a referência igualitária a casamentos entre pessoas do mesmo sexo, é porque estando-se bem na relação com @ parceir@ que mais provavelmente os estágios (profissionais e outros) podem correr melhor, é por todas estas e muitas mais coisas da vida que tantas pessoas do mesmo sexo, se responsáveis e respeitadoras da sua condição cidadã, pretendem (e necessitam de) dar o nó com apoio do Estado em que vivem.

Precisavamos pois de ouvir Alegre para perceber quão bem as suas palavras ilustram a discussão estapafúrdia que ainda temos que aturar. Ou melhor, precisavamos de o ouvir para termos certeza da incerteza que já sabíamos que nos condena. Mas mais do que todas estas contribuições a um Estado de direito que pessoas do mesmo sexo podem dar se casadas, faz-me bem pensar que é em busca de estabilidade afectiva que muitas destas pessoas podem marchar pela mão do casamento. Porque sim, Doutora Maria de Belém, é de igualdade (a senhora é que costuma dizer que sabe disso, embora não pareça) que se trata. Não se junte ao Alegre, que fica tão triste como ele e veja se entende de uma vez por todas que a questão é mesmo prioritária, porque prioritário é o bem estar e a felicidade relacional de quem se entende como cidadão. Porque prioritária é sempre a vontade de que se reconheça aquilo a que todas e todos temos direito: ter direito, com apoio do Direito.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Alguma Coisa do Mar (ou de Mim)


Foi precisamente assim. Em tempos de mar. Em tempos de saudade.
Numa ilha do Atlântico.
Mais uma vez, obrigado Ana, pela sabedoria das palavras.

Garimpeira da beleza
Te achei na beira de você me achar
Me agarra na cintura, me segura e jura que não vai soltar

E vem me bebendo toda, me deixando tonta de tanto prazer
Navegando nos meios seios, mar partindo ao meio
Não vou esquecer
Eu que não sei quase nada do mar
Descobri que não sei nada de mim

Clara, noite rara,
nos levando além da arrebentação
Já não tenho medo de saber quem somos na escuridão
Me agarrei nos seus cabelos
Sua boca quente pra não me afogar
Tua língua correnteza lambe minhas pernas
Como faz o mar

E vem me bebendo toda, me deixando tonta de tanto prazer
Navegando nos meus seios, mar partindo ao meio
Não vou esquecer
Eu que não sei quase nada do mar
Descobri que não sei nada de mim

Ana Carolina
Eu Que Não Sei Quase nada do Mar

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Efeito-Beijo



























































São assim, estas coisas dos Blogs. Porque são assim as pessoas que verdadeiramente nos sabem.
Não fosse por mais, já bastaria pela pronta e espontânea reacção da amiga E. Que sabe o que é a cidadania dos beijos: por isso mesmo os procurou, por isso mesmo fez clara menção à dificuldade de os arranjar e/ ou de arranjar outros "mais amorosos", por isso mesmo nos prova que a cidadania é também isto. De estarmos juntos, de nos fazermos com os outros, de sermos como somos porque os outros nos são e porque somos para os outros.
O Via Fáctea está definitivamente mais bonito, porque (amistosamente) mais plural.
Necessariamente, um BEIJO para E.
PS - quem se quiser juntar, terá menção no "efeito-beijo". Next!... :-)
Com garantia de resposta, de anonimato (semi-quebrado pela inicial do nome) e a reforçar que o espaço virtual também pode ser campo de cidadania.
(Ao anexar as imagens enviadas pela amiga, repeti uma delas e não, não foi preguiça de retirar a repetida, foi saber que nunca é demais repetir, e menos ainda é demais repetir o quase-inexistente).








Todos os Beijos que Quisermos




Facto é que M(i)M(i) partiu hoje, em viagem de merecidíssimo descanso para terras distantes. São sempre distantes, para quem sente a estreiteza do coração. A alegria foi imensa, como é sempre a de quem ama e se alegra com o que alegra outrem. Mas não deixa de esconder a tristeza da despedida. Que é, por definição, custosa, mas para algumas e alguns de nós mais do que para outras e outros.

E é assim que a parca cidadania que (nem sequer) nos assiste assoma aos olhos lacrimejantes que se fazem, paradoxalmente, tanto da despedida quanto da impossibilidade de a consumar livremente. Defendo, sem qualquer arrogante capa de inédita descoberta, que é aqui que mais falhamos, porque é aqui que mais nos obrigam à contenção: no beijo “apaixonado”, “romântico”, “amoroso” (as designações importam-me bem menos que a substância do beijo). Olhem à volta e digam-me quantos beijos viram ser dados em público nos últimos tempos. Quantos beijos viram ser dados desde que se lembram de ver beijos (vá a vossa memória até onde consiga ir). Digam-me, depois disso, quantos viram ser dados entre não-“normativas” gentes. Não encontro forma melhor de designar estes “outros” que costumam ser os “mesmos”, que são tão repetidamente os mesmos (o plural se encarrega de dar conta do heterossexismo e da "compulsão para a heterossexualidade”) . Não quero, claro está, rebaixar, por um milímetro de existência que seja, a beleza que podem (eu disse: podem) ter os beijos destes “outros mesmos”.
O que eu quero, mas o que eu quero mesmo, é que a mais internalizada democracia (tenho tentado que a expressão seja inédita!) comece pela celebração do beijo entre “outras” e “outros” que não os “mesmos”. Que não tenhamos mais que pedir (não ao gato, mas aos ditos concidadãos) que não nos denunciem, que não nos limitemos às paredes para confessarmos de quem gostamos (ou, mais até, que nem precisemos de confessar). O que eu quero mesmo, mas mesmo, é que o bater do coração não esteja condenado ao silêncio, que o beijo prometido - o meu a M(i)M(i) ou de quem quer que seja a quem quer que seja – não apenas se traga ou se leve, mas que se traga e que se leve como quisermos e não como e/ ou onde pudermos. Que não tenhamos de espreitar por portas encostadas para vermos os beijos, todos os beijos que quiserem ser dados. Sem isto conseguido, não me parece que a cidadania possa alguma vez ser (também) nossa.

Eu só quero, afinal, que as despedidas e os reencontros não nos obriguem a falhar nisto: impedir que o beijo se prenda e encorajar que o beijo se solte.
Porque nada menos que cidadania de TODOS os beijos.

PS1 – a fotografia é escolhida (depois de pela primeira vez a ter visto no elgêbêtê) pela beleza que sempre lhe reconheci, que a trouxe à visão quotidiana na minha sala e não por qualquer enaltecimento classista.
PS2 – gostava muito de perguntar à Catarina Furtado em quem se inspirou para a escrita de tão retratante poema.

domingo, 31 de agosto de 2008

Nothin' Is What It Seems


Acabei de ouvir no Jornal 2:
Sarah Palin, no auxílio a McCain, promete aguerrida luta contra o aborto e contra os casamentos homossexuais como principal estratégia para ganhar votos das mulheres e dos republicanos mais conservadores.

Mas de onde é que saiu este monte imbecilóide de laca?

Ah... pois, esqueci-me, it’s the american dream!

A Madonna não está nomeada!?
(relembrá-la aqui vale mesmo, mesmo a pena... 'cause she knows)

FÉ, D. Maria da Fé...


- Desculpe… pode trazer-me um cinzeiro para não sujar o chão com o cigarro?
- Posso, com certeza [sorriso aparentemente franco], mas também não se preocupe,que é da casa deixarmos que os clientes apaguem no chão [o sorriso continua aparentemente franco];
- [Não digo, mas penso] Estás com preguiça de me trazer o dito cinzeiro...;
- [Interrupção de pensamento pelo sorriso e pela (agora declarada) franqueza] Temos cá uma senhora a trabalhar que é um amor, a D. Maria da Fé e não há muito que lhe dar a fazer, por isso uma maneira de continuar a ajudá-la é deixá-la varrer os cigarros do chão. Fica contente, até nos pede e nós também gostamos de a continuar a ajudar.

Sem barata relativização de éticas: Fumar Mata Mesmo?

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Y Viva (?) España.




Fez parte das minhas tão merecidas férias uma saltada até Vigo. Ares frescos desejados, vontade de ler jornais que não os lusos, tão somente dispor de outras paisagens, reconhecendo que nem sempre estou atento às paisagens que todos os dias me cercam. Espanha é, para mim, maravilhosa na língua, nas melhores recordações da infância, no encontro quotidiano que (assumido o estereótipo) mesmo os galegos sabem marcar pelas ruas. Adoro Espanha, sem orgulhos nacionalistas (nem os do país em que nasci nem os de outro país qualquer). Simplesmente porque me sinto em casa, mais em casa do que na casa em que me vejo necessitado a viver (isto, só por si, comprova a ausência de nacionalismos). Mas não há como negar que da formalidade à prática vão ainda muitos, muitos passos.
As fotografias dão conta da atroz semelhança com a nossa realidade (melhor dizendo, com a nossa falta de realidade). Chegado, li a revista Zero e comprovei que apesar das leis (casamento, coisa e tal), os ataques homófobos quadruplicaram num ano (diz Eduardo Mendicutti, que sempre gosto tanto de ler). Revi o que já tinha sabido em Espanha – que uma jornalista espanhola foi despedida da COPE, cadeia radiofónica que a pôs no olho da rua pelo facto de ter casado com uma mulher. As vergonhas podiam continuar a ser inventariadas, naturalmente. O que fica é a corroboração de que não bastam as leis. Já o sabemos, mas foi uma constatação reforçada de férias. Casemos (ou não), mas sobretudo possamos democraticamente viver. Em vez de sobreviver. E era o que mais faltava darmos graças por não morrer (embora tenhamos de pensar nisso). Haja, ao menos, resposta à tentativa de sensibilização da faixa da janela. Ah pois somos cúmplices, somos.
¡Qué lastima, cariños!


PS - outra corroboração foi a sensibilidade (para lá de fotográfica) de M(i)M(i).

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Ah, Ganda Carolina!


De facto, verdadeiramente poderosa!

Tanto, que até eu podia ser comido por ela, embora jamais comesse a Madonna.

Tô rendjido. E vai-te embora, ó Calcanhoto! :-))))))



Me esquenta com o vapor da boca e a fenda mela.
Imprensando minha coxa na coxa que é dela
Dobra os joelhos e implora o meu líquido
Me quer, e quer ver meu nervo rígido
É dessas mulheres pra comer com 10 talheres,
de quatro, lado, frente, verso, embaixo, em pé
Roer, revirar, retorcer, labuzar e deixar o seu corpo
tremendo, gemendo
Ela tava demais
o peito nu com 5 ou 6 colares
Me fez levitar em meio aos 7 mares e me pediu
que lhe batesse, lhe arrombasse, lhe chamasse de cafona,
marafona, bandidona
Fui eu que bebi, comi a Madonna
Chegou com mais três amigas, cinta-liga, perna dura,
dorso quente, toda língua e me encoxou me apertou,
me provocou e perguntou:
Quem é tua dona?
Fui eu quem bebi, comi a Madonna

Ana Carolina
Eu comi a Madonna

Parir


Olhe o meu filhote! E olhe a minha filhota! Sabe… são o meu filhote e a minha filhota! Percebeu mesmo, mas percebeu mesmo, mesmo!? É que são o meu filhote e a minha filhota! Eu tenho a sorte de ter parido um casal! É que tenho um filhote e uma filhota! Soube parir o que devia ser parido: genes masculinos e femininos. Não tem por acaso aí nenhum catálogo, mesmo que não venda nada do que tiver lá para vender? É que sempre punha o meu filhote e a minha filhota a serem conhecidos pelo mundo inteiro e assim sabiam que eram os meus filhotes! É que Portugal precisa (já agora, o mundo também ganhava com isso) e as mamãs e os filhotes agradecem. Pronto, já disse. Mas olhe que eu sim, sou uma mãe, ainda por cima que se veja. Porque não tenho só um, tenho dois filhotes, menino e menina!

Única observação possível: TOU-ME A CAGAR!
PS - a terminação "ote", por si mesma, bastava para eu sentir necessidade deste post.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Instantes há de inveja...


... de quem escreve assim. Instantes que logo se desfazem na lembrança de quem me dá a substância mais viva a estas tão, mas tão belas palavras.


PRESÍDIO

Nem todo o corpo é carne… Não, nem todo.
Que dizer do pescoço, às vezes mármore,
Às vezes linho, lago, tronco de árvore,
nuvem ou ave, ao tacto sempre pouco…?

E o ventre, inconsistente como o lodo?...
E o morno gradeamento dos teus braços?
Não, meu amor… Nem todo o corpo é carne:
É também água, terra, vento, fogo…

É sobretudo sombra à despedida;
onda de pedra em cada reencontro;
no parque da memória o fugidio

vulto da Primavera em pleno Outono…
Nem só de carne é feito este presídio,
Pois no teu corpo existe o mundo todo!

David Mourão-Ferreira

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Mudam-se os tempos, as vontades nem por isso.


As mulheres, quando trabalham juntas, só dão problemas.

Foi o mote para uma violenta discussão em local de trabalho. E não, não foi violência doméstica, foi pública. Com o entristecimento de:


1. saber que a maior parte das mulheres (!) que defendeu isto são psicólogas;
2. ter sido eu, único homem (!) presente na discussão, a opor-me com violência à violência do que proferiram;
3. as colegas exercerem a sua profissão em evidente jeito de discriminação no espaço que não é o do café (e já mau era que o fosse) mas o da clínica;
4. ter reforçado eu, em carne viva, a ideia de que assim se espelha o mundo que insiste mesmo em não mudar.

No final, chave de ouro (não ouvi, mas os olhares e as posturas falam po si):
disse o que tinha dito porque sou gay.
Vou dormir, oxalá que muito.
PS - imagens como a deste post são raríssimas e provam que os homens quando trabalham juntos não dão problemas nenhuns. Mesmo nenhuns!

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Arre, estúpido!!!


Estupidez é não perceber que o senhor que escreve isto é imensamente estúpido! Provavelmente, porque foi educado por "heterossexuais" estúpidos. Se não o foi, dê mais dignidade à imagem de quem o educou. A gente até só pede que faça uma "fórcinha" para denunciar um bocadinho a estupidez de quem o deseducou. Pode ser que isso contribua para o acharmos menos estúpido. Ou então vá ser estúpido para outro sítio.
Acresce o absolutamente não-estúpido comentário do meu adorado MiMi, que comigo vai caminhando cada vez mais terna e empenhadamente nestas denúncias:

Se estivessemos perante um simples colaborador do Expresso a assinar tal artigo ainda seria dado o benefício da dúvida mas sendo o caso do Director a escrever um artigo de opinião, algumas questões relevantes devem ser levantadas. Primeiro, sobre o artigo, o Sr. Henrique não domina o tema, não fez investigação jornalística e limitou-se a escrever um artigo de rotina, ao bom jeito do jornalista que não se empenha no que faz. Segundo, sendo sua opinião a vigente na redacção desse jornal conclui-se que é a da estupidez de opiniões que domina o vosso trabalho neste momento. Terceiro, e em remate final, o Expresso confessa-se mais conservador que nunca e que de "moderno" apenas tem o aspecto gráfico. "Antes que venha" o Sr Henrique (chamar-lhe jornalista não faz sentido) voltar a escrever sobre um novo tema com a mesma profundidade que escreveu este, tão pessoal, e nele incluir tamanha estupidez ou "coisas do estilo", talvez os jornalistas do Expresso devessem "debater" (verdadeiramente) para mostrarem o quão próximos estão das "opiniões" do seu director e para com ele não serem confundidos. Em nome do bom jornalismo que se quer numa "democracia moderna" que não a dele.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Bota pra lá a censura!


Uma ideia louvável, na qual podem ter voz activa.
Do ideal ao real, nem sempre a distância tem que ser infinita.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Guernica (minha)


Sendo facto que não sou, de modo algum, um apreciador de museus, é também facto que foi este o quadro que me fez chorar. Numa louvável forma de apresentação que vale a pena ser vista aqui. E a quem interessar, uma boa leitura sobre a obra aqui.
Comovam-se. Ou limitem-se a olhar. Porque a mensagem continua a ser mais do que útil.

Com um especial agradecimento a O. pela incitação à revisitação.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

A Nossa Rainha


Este ano, Manuela Ferreira Leite aceitou o convite para ser Rainha da Marcha do Orgulho LGBT do Porto. Mesmo estando eufórica pela antecipação do acontecimento, concedeu-me esta entrevista, que tomei a liberdade de vos transcrever.

Porque acedeu, Manela, a ser Rainha da Marcha?
Porque não sou suficientemente retrógrada para ser contra as ligações heterossexuais, aceito-as, são opções de cada um, é um problema de liberdade individual sobre o qual não me pronuncio.
Fala sempre no masculino…
Ah sim, tem razão. De facto as mulheres merecem toda a primazia do discurso. Desculpe. Prometo que farei jus à minha condição de Rainha gritando por toda a cidade invicta no feminino, no masculino e no que não cabe nem numa nem noutra destas designações.
Diga-nos, Manela, porque se pronuncia, afinal?
Pronuncio-me, sim, sobre o tentar atribuir o mesmo estatuto àquilo que é uma relação de duas pessoas de sexo diferente igualmente ao estatuto de pessoas do mesmo sexo.
Mas isso não lhe parece algo homossexista ou algo heterofóbico?
Sim, mas olhe que eu sempre tive estratégia política, como sabe! O que verdadeiramente acontece é que estou cansada do que já todos sabemos: que os heterossexuais não tenham de que queixar-se. Ser Rainha é um privilégio em prol da celebração de quem nunca é reconhecido. Ai desculpe, …, de quem nunca é reconhecida ou reconhecido. Acha que um dia no ano compromete o que as mulheres e os homens heterossexuais conseguiram e mantêm ao longo de tantos séculos?
Não, não, pelo contrário. Isso é, realmente, uma posição política digna de uma Rainha.
É a única posição que me cabe como Rainha! Admito que esteja a fazer uma discriminação homossexista ou heterofóbica, como disse, mas porque é uma situação que não é igual. A sociedade está organizada e tem determinado tipo de privilégios, de regalias e até medidas fiscais no sentido de promover a família heterossexual. Pois se assim é, devemos pensar que o que faz falta é promover o afecto, a adopção e, quem sabe, a procriação, mas apenas desde que desejada, consciente e possibilitada a todas as pessoas independentemente da sua orientação sexual ou identidade de género. É uma realidade. Chame-lhe o que quiser, mas chame o mesmo nome às pessoas e aos laços que estabelecem e esqueça essa coisa aborrecidíssima de estarmos a falar de homens, de mulheres, de orientações sexuais e de identidades de género. Uma coisa é casamento, outra coisa é qualquer outra coisa. O que significa que todas e todos devem ter acesso a ele e que quem não o quiser deve poder escolher rejeitá-lo. Não deve é deixar de escolhê-lo ou rejeitá-lo por causa de rótulos. Isso está mais ultrapassado do que a minha imagem. Por favor!
Quer dizer mais alguma coisa às pessoas LGBT do país que ambiciona governar?
Quero dizer-lhes que reconhecer o que é óbvio só me traz votos. Só se seu sofresse de uma debilidade mental é que seria incapaz de reconhecer que tudo o que lhe disse só pode beneficiar um político, ai, desculpe, uma política, ainda por cima que se designa social-democrata. Isto é ganhar votos e a minha estratégia política nunca poderia deixar de atender a isso.
Podemos ainda saber como vai vestida?
Estou em crer que me vai ser difícil ter um guarda-roupa à altura das imagens animadíssimas e renovadas que muitas vezes invejei nas Marchas do Orgulho. Naturalmente que se não tivesse aceitado ser rainha, iria vestida com o que tenho, a acompanhar a sobriedade de muitas outras pessoas que também sempre admirei nas Marchas. A ver vamos. Mas é verdade que a pluma está a tentar-me mais do que a governação do país.

Disse à Manela, no final da entrevista, que me senti a mentir. Mas a seguir também lhe disse que ao menos eu sabia que era mentira. Ao contrário de muitas outras pessoas que sabem que não estão a mentir quando dizem as mais bárbaras palavras. Não sei porquê, ficou a pensar nesta minha observação final. Não percebi…