É facto que Alegre trouxe exactamente o que necessitávamos de ouvir. Não o que desejamos que seja dito. Mas que é exemplar no conteúdo. Exemplar de tão ignorante, nem mais nem menos do que ignorantes têm sido as posições da “maioria” (não sei o que a palavra significa!) parlamentar. Os “jovens socialistas”, canta o Alegre, estão mal, muito mal, porque defendem “temas fracturantes [e eles, os Alegres, a darem-lhe!] que estão na moda e depois passam”. Sim, seguramente mais na moda do que o Alegre, que é triste na sua obsoleta e pro-poética (e por isso pouco real) abordagem. Mas o que já me aborrece de morte (e nela não encontro sentido) é a pronta necessidade de justificação que os mesmos jovens se dão ao trabalho de lhe oferecer: a de já terem feito algo em prol das “outras” (também não sei porque são "outras"!) necessidades do país. Não, queridos. Bem sei que estamos fartos de saber que vos cabe defenderem a concretização de agendas. Mas não, a resposta mais pronta e verdadeiramente alegre não devia, digo eu, ser a que dão. A precaridade do emprego jovem, os manuais escolares necessários à aprendizagem, a redução de custos de trasporte, os estágios profissionais, todas estas coisas que o Alegre diz serem de “mais urgência” são grandemente beneficiadas pelos casamentos entre pessoas do mesmo sexo. É porque não fazem de conta que gostam umas das outras, é porque querem celebrar com sustentação jurídica os esforços de contribuição conjunta para o bem estar acrescido do país dos Alegres, é porque sabem que a precaridade laborar pode em muitos aspectos ser reduzida, é porque pretendem que os transportes tenham custos em pé de igualdade com os benefícios que a casais de sexo diferente são conferidos, é porque os bons manuais devem incluir a referência igualitária a casamentos entre pessoas do mesmo sexo, é porque estando-se bem na relação com @ parceir@ que mais provavelmente os estágios (profissionais e outros) podem correr melhor, é por todas estas e muitas mais coisas da vida que tantas pessoas do mesmo sexo, se responsáveis e respeitadoras da sua condição cidadã, pretendem (e necessitam de) dar o nó com apoio do Estado em que vivem.
Precisavamos pois de ouvir Alegre para perceber quão bem as suas palavras ilustram a discussão estapafúrdia que ainda temos que aturar. Ou melhor, precisavamos de o ouvir para termos certeza da incerteza que já sabíamos que nos condena. Mas mais do que todas estas contribuições a um Estado de direito que pessoas do mesmo sexo podem dar se casadas, faz-me bem pensar que é em busca de estabilidade afectiva que muitas destas pessoas podem marchar pela mão do casamento. Porque sim, Doutora Maria de Belém, é de igualdade (a senhora é que costuma dizer que sabe disso, embora não pareça) que se trata. Não se junte ao Alegre, que fica tão triste como ele e veja se entende de uma vez por todas que a questão é mesmo prioritária, porque prioritário é o bem estar e a felicidade relacional de quem se entende como cidadão. Porque prioritária é sempre a vontade de que se reconheça aquilo a que todas e todos temos direito: ter direito, com apoio do Direito.
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