quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Cuidar


Cuidar tem implicações vocabulares que podemos roubar ao dicionário.
Se transitivo o verbo, é de imaginar, de supor, de meditar, de reflectir sobre algo ou alguém que o vocábulo se faz. Que se faz a necessidade de olharmos a sombra de quem ternamente nos sobrevoa e de lhe reconhecer a imaginação de não querer ser apenas imaginado, não ser apenas suposto, mas real, meditante e reflectido no amor que nos dá. Tenho em mim o vocábulo assim inscrito, ao tê-lo em carne e osso de um anjo.
Quando intransitivo, é de trabalhar, de tratar, de ter cuidado ou de interessar-se que se veste o verbo. Pelo que intransitivo é também o anjo, a trabalhar sobre o trabalho de um dia, para tratar com o cuidado que é tão seu, num interesse sem interesses, mas que interessa pela comoção que me assoma aos olhos.
No fim destas possibilidades vocabulares, é sobre nós que cuidar, assim dado pelos anjos, se pode fazer pronominal. Quando nos imaginamos (com os anjos), quando nos julgamos (sem bárbaros juízos que nos afastem dos anjos), quando nos acautelamos (no merecimento das asas), quando sabemos que damos trabalho. Que damos trabalho na exacta medida do trabalho a que nos dedicamos, para que o sopro sobre as asas as faça esvoaçar, sem nunca deixar que se quebrem.
A ti, anjo.

1 comentário:

Anónimo disse...

Cuidar sempre porque só assim compreendo o amor. É que este verbo ambos conjugamos, sempre no presente, alternadamente e na primeira pessoa.
Que as tuas asas agora repousem, no descanso merecido dos dias que tantas vezes se repetem conra a nossa vontade.
Sempre tão teu doce
MM