sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Os perigos de NÃO dar de fumar!


É a quarta (repito: quarta) vez que me acontece no espaço de dois meses. Enquanto caminho pela rua, vou fumando os meus cigarros (parece que nas ruas ainda nos deixam fumar), vou aproveitando para fazer algum exercício físico e para (nem sempre, mas com alguma frequência) ir olhando a cidade, nos seus espaços materiais e no seu preenchimento humano. Com frequência, abeira-se de mim gente e pede-me um cigarro (como a muitas e muitos de nós). Das quatro vezes em que os factos aqui relatados ocorreram, o tom do pedido foi o mesmo: delicodoce, miserabilista, pseudo-amigável, acompanhado de justificações infindáveis sobre a impossibilidade de comprar cigarros. Das quatro vezes exerci um óbvio direito, sem qualquer preconceito ou ideologia associados a quem me dirigiu o pedido: não dar. Das mesmas quatro vezes a reacção foi a mesma: cessação imediata do tom delicodoce, revés do miserabilismo pela agressividade manifesta, finalização das justificações e chorrilho de insultos que registei mentalmente: “roto do caralho”, “os paneleiros são sempre a mesma merda”, “deves fumar por outro sítio” e “ai, ai, ai, como ele mexe a mãozinha”. Daqui infiro que: (1) devo ter alguma coisa inscrita em mim que conduz a tais apreciações (tanto se me dá que tenha ou que não tenha), (2) por muito que seja desagradável ouvir o que ouço mais razões tenho para continuar a não dar, (3) sonho mesmo com um polícia em todas as ruas para me auxiliar no exercício do Princípio da Igualdade (além de todas as outras coisas pelas quais nos daria jeito mais policiamento), (4) o preenchimento da cidade vai sendo cada vez menos humano (nestas e noutras reacções a que estamos sujeitos) e (5) a exclusão é de facto muitas vezes suportiva de outras exclusões. Nada que a gente não saiba, mas que continua a moer e que se calhar nos leva qualquer dia a saber que FUMAR MATA… SE A GENTE SE RECUSAR A DAR DE FUMAR.

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