domingo, 30 de março de 2008

Rever Belize


Belize é uma pérola maravilhosa, numa encenação não menos maravilhosa chamada Anjos na América. Falando com o moribundo Roy, a excelência do esterco humano, diz-lhe o que todos nós deveríamos ser capaz de proferir a alguém assim. As palavras são igualmente válidas para que as digamos a nós mesmos. Belíssimas, sabiamente cáusticas, num equilíbrio de humor e de seriedade que toca o mais fundo do ser.

Lov’ya, Belize.

Roy- Como são as coisas depois?
Belize – Depois?
Roy – Um inferno ou um paraíso?
Belize – É como São Francisco. Uma cidade, cheia de ervas daninhas, mas ervas daninhas florescentes. A cada esquina, uma multidão destroçada… e qualquer coisa nova e perversa, a ascender diagonalmente nessa direcção. Janelas ausentes em todos os edifícios, como bocas desdentadas. Vento arenoso… e um céu cinzento e altaneiro, pejado de corvos. Pássaros pungentes, com lapidações como rubis. E vacas a cuspirem ao vento. E cabinas de voto. E toda a gente em vestes Balenciaga, com corpetes vermelhos. Enormes palácios dançantes cheios de música e luz. Impureza racial e confusão de géneros. E todas as cidades são crioulas. Mulatas. Morenas, como as fozes dos rios. Raça, gosto e história finalmente suplantados. E tu não estarás lá.
Roy – E o céu?
Belize – Isto era o céu, Roy!
Roy – Quem és tu?
Belize – Sou a tua negação. Sou apenas a sombra que te recairá sobre o túmulo.

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