domingo, 2 de março de 2008

O Nobel que merecemos


Sabe, quem bem e de há longa data me conhece, que nunca necessitei do Grande Prémio para venerar (sim, venerar) este senhor. Não necessitarei da sua morte, se essa palavra pudermos algum dia dizer a seu respeito, para lhe prestar o tributo que a presença dos seus tantos livros cá por casa atesta há muito. É talvez a Saramago que devo a minha admiração pelo que pode a constelação de letras, frases e parágrafos ensinar-nos sobre o que somos. Ensinou-me ele como ninguém, ao perguntar-se: Que farei com este livro?, que “servem as palavras para isto: tão certas são para errar, como erradas para acertar”. Enquanto isto não soubermos, não sei o que possamos saber.


Terminada a leitura (absolutamente sorvida como o mais delicioso dos néctares) do livro de Fernando Venâncio, José Saramago – A Luz e o Sombreado (Campo das Letras), fica este post, inspirado pela passagem que transcrevo (me perdoe o autor o possível abuso dos seus direitos). Portugal merece o Nobel da Literatura que tem, o que talvez queira dizer piores do que melhores coisas de nós, a julgar pelo conteúdo. Era bom, talvez, que pensássemos mais sobre isto.


"Quando a TVI vem entrevistá-lo, [Saramago] aproveita para “pôr a claro o assunto [da eventual atribuição do Nobel]”. Fá-lo por pontos. Primeiro, o dinheiro é dos suecos, e eles dão-no a quem entenderem. Segundo, há que acabar com esse implorar da “esmolinha” do Nobel. Terceiro, o prestígio da nossa literatura não depende de tal prémio. Quarto, se a quantia fosse bastante menor, pouco se importariam os escritores com ganhá-lo. E, quinto, a franqueza exigiria que eles confessassem que, neste assunto, é o dinheiro que lhes interessa. Mais tarde, anotará que, segundo um jornalista espanhol, estas, ou similares, declarações lhe põem o Nobel “em risco”. E daí? Se, “por hipótese absurda”, a Academia sueca lhe desse a escolher entre o prémio e um livro que se propusera escrever, o autor não hesitaria em responder que guardassem a importância".


Um beijo sincero, Saramago.

Que é como sei agradecer a quem verdadeiramente gosto e me dedico.

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