sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Mendonzismo



É facto que não paro de me surpreender com (alguns) livros e/ ou com (excertos) que neles encontro. Desta vez, a surpresa veio, tão agradavelmente, a certa passagem de uma história leve – O Mistério da Cripta Assombrada, de Eduardo Mendonza. Digam lá (assumo a veia psicológica) se não ha nisto uma imensa beleza, daquelas que nos retratam como humanos…

É na verdade curioso – disse – como a memória é o último sobrevivente do naufrágio da nossa existência, como o passado destila estalactites no vazio da nossa sentença, como a paliçada das nossas certezas se abate perante a brisa da nostalgia. Nasci numa época que a posteriori penso que é triste. Mas não vou fazer agora história: é possível que toda a infância seja amarga. O transcurso das horas era o meu lacónico companheiro de brincadeiras e cada noite trazia consigo uma triste despedida. Daquela época, lembro-me que atirava com alegria o tempo pela borda fora, na esperança de que o globo levantasse voo e me levasse para um futuro melhor. Um louco desejo, pois seremos sempre o que já fomos”.
Quem escreve assim…

PS – não sei que me deu, que Espanha tem andado a remoer cá entre os factos!

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