Geralmente, não gosto, mas não gosto mesmo do autor. Essencialmente porque sinto que se excede (e não raras vezes a si mesmo), que tem uma veia de pró-multifacetado que não me parece que consiga ser, porque o culto do ego lhe cobre as faces e discurso. Mas desta vez, e a partir do que se pode ler
aqui, sinto-me inteiramente de mãos dadas com ele. Até porque francamente não sei como não se possa estar!
Acho que o excerto que se segue diz tudo:
(...) Eu penso que Portugal não vale muito como nação e como povo - aquilo que nos separa da inviabilidade não é tanto como, por inércia, nos habituámos a pensar. Vejo Portugal um pouco como aquelas mulheres fatais que, entre os vinte e tal e os quarenta e poucos anos, se habituaram a reinar como princesas, seduzindo e cativando tudo à roda e julgando-se eternamente senhoras do jogo. Mas, um dia, olham-se ao espelho, percebem que o seu poder de sedução está a desaparecer e correm para as plásticas, para os ginásios ou para um sem-número de truques com os quais julgam poder enganar eternamente o que, pela natureza das coisas, tem um fim. Um dia, dissipado o nevoeiro do espelho, com a miserável realidade das facturas para pagar, extinto o charme do fado, do sol e do bidonville algarvio, Portugal dar-se-á conta de que está sozinho e de que já ninguém se deixa seduzir pelo seu jogo de mulher fatal da Europa, o país "que deu novos mundos ao mundo", o Infante, as caravelas e toda essa conversa gasta (...). Os países, tal como as pessoas, podem viver da aparência ou da substância. Mas não viverão sempre da aparência se não tiverem substância que a suporte.
PS - agradecimento ao alerta de M(i)M(i).