terça-feira, 25 de novembro de 2008

Que seja por muitos...


Pois não é que o Via Fáctea faz hoje um aninho? Houve tempo para abichanar, abraçar, acordar, agradecer, alegrar, amar, concordar, denunciar, desmontar, elogiar, encorajar, escutar, festejar, ironizar, libertar, rabujar ou relembrar. Houve ainda tempo para perceber que há factos sem etiqueta possível. E o desejo é o de que outros factos se juntem aos já etiquetados, bem como a outros que possivelmente venham a merecer novas (mas sempre tendenciosas) etiquetas. Umas vezes com mais, outras vezes com menos “etiqueta”.
Bem-haja.

sábado, 22 de novembro de 2008

Noite


Apeteceu-me apenas dar um beijo à noite. Depois de um dia em que um casamento teve a bondade de me devolver a saudade do meu amor, em que um anjo de olhos claros se sentiu a quase terminar um projecto comigo, em que dois amigos fizeram as rosas menos escuras só por estarem ali, na celebração (das torturas desvanecidas) de uma tese e na oferenda de uns líquidos etílicos, em que afinal a vida mais uma vez comprova que o que tem de melhor são os momentos oferecidos à desmistificação do insuportável.
Mesmo que amanhã me desapareça toda esta (hiperbólica?) felicidade, o beijo à noite terá tido sempre o seu merecimento.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Mendonzismo



É facto que não paro de me surpreender com (alguns) livros e/ ou com (excertos) que neles encontro. Desta vez, a surpresa veio, tão agradavelmente, a certa passagem de uma história leve – O Mistério da Cripta Assombrada, de Eduardo Mendonza. Digam lá (assumo a veia psicológica) se não ha nisto uma imensa beleza, daquelas que nos retratam como humanos…

É na verdade curioso – disse – como a memória é o último sobrevivente do naufrágio da nossa existência, como o passado destila estalactites no vazio da nossa sentença, como a paliçada das nossas certezas se abate perante a brisa da nostalgia. Nasci numa época que a posteriori penso que é triste. Mas não vou fazer agora história: é possível que toda a infância seja amarga. O transcurso das horas era o meu lacónico companheiro de brincadeiras e cada noite trazia consigo uma triste despedida. Daquela época, lembro-me que atirava com alegria o tempo pela borda fora, na esperança de que o globo levantasse voo e me levasse para um futuro melhor. Um louco desejo, pois seremos sempre o que já fomos”.
Quem escreve assim…

PS – não sei que me deu, que Espanha tem andado a remoer cá entre os factos!

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Puta Verdad...


Nem a propósito das (minhas) relutâncias às “Sofias”, e a contrapor as respectivas maleitas, eis a minha mais recente descoberta musical (mas não só!). Adoro, e adoro e adoro. Trouxe-me um fôlego renovado, uma crença de que somos bel@s de muitas maneiras, mas sobretudo quando somos da maneira que somos. Gostar-se ou não do estilo musical é, digo eu, indiferente para o caso. O magnífico YouTube encarrega-se de nos dar o regalo de acedermos as gentes belas nas muitas versões em que, ao se desdobrarem, não perdem a continuidade do que fazem e do que acreditam. Busquem-nas, se gostarem tanto como eu (ou se não gostarem).
E é genial, a fazer da sua beleza a manifestação viva do que lhe vai na alma, tornando risível (mais) um ignorante entrevistador, porque “nunca entrou em armários que já estavam cheios demais”. :-)
Gracias, Falete.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

La Raina muy de Lejos!


Sua (obviamente não minha, mas de quem a quiser!) Majestade, a Rainha D. Sofia, estava desejosa de ser contemplada neste Blog. Mostrou-o nos factos das suas majestosas palavras (o problema é mesmo esse, terem sido majestosas) sobre vários assuntos, tendo eu ficado majestosamente encantado com dois: a violência doméstica e o casamento entre pessoas do mesmo sexo. São, entre outras, duas pérolas brilhantes que lhe ficarão na coroa. Quanto à violência doméstica, o brilho da pérola é a sua insistência na (ignorante e, portanto, conivente) alegação de que há insistência sobre o assunto por parte da comunicação social. Não admira: são setenta anos em que a senhora se habituou à violência privada de se fazer, com os seus, tão privada. Para depois se fazer pública a dizer o que não deve, quando governa um dos reinos onde mais mortes se contam entre paredes, umas mais faustosas, outras menos, mas todas elas infelizes, por definição. Argumenta a monarca que falar-se sobre o assunto, “pode ser contagioso, dando-se ideias a outros que imitam” a barbaridade. Sendo assim, há que depreender que também a sua querida família, que mesmo estando no trono não deixa de ser humana, está sujeita às tais imitações, a ter ideias que não deve, a contagiar-se. Falta saber, em potencial de contágio e de imitação, quem agredirá quem (embora isso não interesse para o caso, que é mau em qualquer caso): Letícia, Filipe, Juan Carlos, os rebentos e a própria Sofia estão aptos, a qualquer momento em que leiam um jornal ou liguem a televisão, a atirar sobre outrem, a espancarem-se, a serem pérolas monárquicas do contágio. Lá saberá a rainha que ideias e/ou que actos se têm desenvolvido entre as paredes do Palácio Real!
A dita senhora consegue, pelo menos, ser consistente com o que diz. Porque na mesma linha de pensamento opina sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Que se durma na mesma cama quando se tem “outra (?) tendência (?) sexual (?)”, mas que se fechem as cortinas para que Espanha mantenha o decoro. Diz que não empatizou com Aznar, o que me leva a imaginar que deve sua Majestade correr riscos bulímicos quando se acerca de Zapatero. Indignada porque há quem sinta orgulho por ser gay (a gente percebe, porque orgulho é coisa que nunca caberia a uma Rainha!), porque os gays sobem para um carro e saem em manifestações (a gente percebe, porque subir a um carro e ter milhares de acenos manifestantes de embevecimento é coisa que nunca caberia a uma Rainha!), porque se vestem de noivos e se casam (a gente percebe, porque vestidos de gala e caudas gigantescas de casamento são coisas que nunca caberiam a uma Rainha!), a pobre (de espírito, como é óbvio) deve a-do-rar o José Luís, ainda mais quando diz que tudo isto vai contra as leis do país que lhe veste a coroa, leis que o José Luís em nada suportou!
O assunto esgota-se no maior favor que a Rainha começa por fazer a si mesma e, em seguida, a quem tem dois dedos de testa (que é coisa fácil perante a dela, imensa em extensão, minúscula em serviço): o favor de dizer que “se todos os que não somos gays saíssemos em manifestação… entupiríamos o tráfego”. Ó Sofia, a questão é que já entopem: o tráfego, as vontades homofóbicas como a tua, os números das mortes acontecidas sobretudo entre os únicos casais que reconheces como dignos de tal nome, a montanha de violências sobre gente que tem tanto direito a vestidos como tu e, talvez acima de tudo, as filas para compra do livro em que acedeste expor (para mim, em jeito de Real violência pública) as baboseiras com que nos presenteaste.
God Shave the Queen!