terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Rosa Montero




Em tradução livre, um pedacinho de uma maravilhosa forma de encantadamente descrever o encanto da escrita.
Gracias, Rosa.

Há dias em que te sentes tão inspirada, tão repleta de palavras e de imagens, que escreves com uma sensação total de gravidez, escreves como quem sobrevoa o horizonte, surpreendendo-te a ti mesma com o que escreveste: “mas eu sabia isto?”. “Como fui capaz de redigir este parágrafo?”. Às vezes estás escrevendo muito acima da tua capacidade, estás escrevendo melhor do que sabes escrever. E não queres mover-te da cadeira, não queres respirar, nem pestanejar, nem muito menos pensar, para que não se quebre esse milagre. Escrever, nesses raros instantes de leveza, é como bailar com alguém uma valsa muito complicada e bailá-la perfeitamente. Rodas e rodas nos braços do teu parceiro, dando intrincados e formosíssimos passos com os pés alados; e ressoa a música das palavras nos teus ouvidos, e o mundo em redor é um arranhado som de aranhas de cristal e candelabros de prata, de sedas reluzentes e sapatos lustrosos, o mundo é uma vertigem de brilhos e o teu baile está roçando a mais completa beleza, uma volta e outra e continuas sem quebrar o compasso, é prodigioso, com o muito que temes em perder o ritmo, calcar o teu parceiro, ser uma vez mais torpe e humana; mas desejas dar um passo mais, e outro, e talvez outro, voando por entre os braços da tua própria escrita.

Rosa Montero
La Loca de la Casa

sábado, 26 de janeiro de 2008

Exactly...



You cannot find peace by avoiding life.

Virginia Woolf

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Zazie


C'est tout... a propos de l'amour.
Merci, Zazie. Et merci, mon coeur, pour la découverte.


Tu fais la pluie
tu fais le beau temps
Tu es l'ombre et la lumière
Tu es le ciel et l'enfer
Tu fais la pluie,
tu fais le beau temps
Tant que parfois je m'y perds
Entre l'amour et la guerre
Si je sors avec toi par tous les temps
Mon coeur dans tes mains est un cerf-volant
Qui subit sans savoir d'où vient le vent,Vient le vent

Tu fais la pluie
tu fais le beau temps
A savoir s'il me reste assez de courage
Pour braver la tempête de tes nuits d'orage
Mais l'amour n'est pas l'amour sans nuage
Fais-moi la pluie
fais-moi le beau temps
Fais-moi l'ombre et la lumière
Fais-moi l'amour et l'enfer
Fais-moi la pluie
fais-moi le beau temps
Fais-moi l'ombre et la lumière
Fais-moi l'amour et l'enfer


segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

JAMAIS



JAMAIS quereria filhas ou filhos. Esta, de resto, uma discussão que já gastei inteiramente em informais conversas, mas que há pessoas que perceberam – não quereria pelo simples facto de que sou suficientemente egoísta para não dar a uma criança aquilo de que sempre necessita: amor e regras num contexto de segurança. Porque dou amor, mas não o suficiente para a criança, porque nem sempre tenho regras, porque a minha vida é-me razoavelmente segura, mas não razoavelmente segura para outrem. Não obstante - e isto sim é para mim UM JAMAIS MAIS JAMAIS QUE O PRIMEIRO JAMAIS - nunca, nunca, mas mesmo nunca poderia concordar com a impossibilidade de contemplação de casais do mesmo sexo na lei que regula as famílias de acolhimento. Porque muitos destes casais dão mais amor do que eu e do que muitos "casais heterossexuais” (seja lá o que isso for), porque muitos destes casais têm regras (a começar pelas que presidem ao facto de serem casais), porque muitos destes casais abraçam a segurança com a mesma vontade que abraçam crianças (as que vivem com outras pessoas, as que não vivem com ninguém e as que desejam, mas não podem, ter a seu cuidado e nutrir com o seu amor). Mais do que isto é discussão que me cansa. Para que não restem dúvidas quanto à distância que sei criar entre mim e as outras formas de estar na vida, um site que não me comove. Mas que consulto algumas vezes.

domingo, 20 de janeiro de 2008

Sábios Macacos!


A mais viva razão que ontem encontrei para (felizmente) ter estado na reunião da Comissão Promotora do Congresso Feminista 2008 foi a prova, mais do que repetida, que quem não entende o porquê de lá termos estado não entende nada quando fala de mulheres. Não entende nada quando fala de desigualdades, sejam elas quais forem. O trabalho sério, empenhado, trabalhoso enfim, que por lá se desenvolveu (depois de tanto já desenvolvido e a desenvolver), mais sério se tornou com o apelo à presença, no próximo dia 23 nas Portas do Sol, em Madrid. Mulheres espancadas, insultadas, verbal e fisicamente torturadas por um direito que lhes assiste – o de escolher - continuam aqui ao nosso lado (de casa e do país) a sofrer porque põem fim à gravidez (in)desejada. Quem as apoia neste direito, não fica em melhores lençóis (peço desculpa se a palavra é infeliz!).
Fechemos os olhos, os ouvidos, a boca e os macacos restam comprovadamente muito superiores a nós. Aprendi que só costumam matar em caso de (extrema) necessidade de sobrevivência. Ao que parece, nós continuamos a costumar matar em caso de (extrema!!!????) vivência.

E repare-se que da luta constam as CATÓLICAS pelo Direito a Decidir.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Se é Gay, NÃO CUMPRIMENTE!!!!!!!


A new, highly drug-resistant strain of the “flesh-eating” MRSA bacteria is being spread among gay men in San Francisco and Boston, researchers reported on Monday.
In a study published online by the journal Annals of Internal Medicine, the bacteria seemed to be spread most easily through anal intercourse but also through casual skin-to-skin contact and touching contaminated surfaces. (...) The new strain seems to have “spread rapidly” in gay populations in San Francisco and Boston, the researchers wrote, and “has the potential for rapid, nationwide dissemination” among gay men. (...) A separate part of the study found that gay men in San Francisco were about 13 times more likely to be infected than other people in the city.
The San Francisco researchers suggested that scrubbing with soap and water might be the most effective way to stop skin-to-skin transmission, particularly after sexual activities. (...) Nearly 19,000 people died in the United States from MRSA infections in 2005, the Center for Disease Control and Prevention has reported.
The New York Times, January 15, 2008

Ah, Ok.
Hoje fiquei a saber que:
- só os gays dão apertos de mãos (e entre eles!), coisa mais do que certa numa cidade como São Francisco (tendo deixado de cumprimentar a restante população da cidade);
- os gays sabem de antemão (mas que não seja de mão-na-mão) quem vão cumprimentar, o que significa que numa cidade como São Francisco passará a ser obrigatório escrever na testa de alguns cidadãos: “Gay - aperte se quiser ficar doente, fuja se quiser continuar saudável”;
- os gays passarão a ter como ídolo Michael Jackson e apenas ele, único ser saudável à face da terra porque não toca em superfícies (certamente contaminadas, sobretudo se por elas passarem gays);
- só os gays gostam de penetração anal, coisa igualmente plausível em São Francisco e nos restantes locais do mundo; mas mais: se não-gays encontrarem prazer numa parte mais recuada do corpo d@ parceir@, tudo bem!;
- há que conter os gays para bem da nação no seu todo – estava a estranhar o não retorno dos “asilos para invertidos”; resta é perguntar como se vai saber, não havendo um forte cumprimento de mãos, uma camisolinha de marca, um pulso mais oscilante (coisas que muito respeito, obviamente), quem se deve meter no asilo;
- há gays e “other people” em São Francisco – coisa sempre simpática de se saber, mesmo que não se saiba de que gays é que estão a falar e quem pode ser incluído na digna (?) categoria de “other people”;
- “soap and water are a gay’s best friends” e que quem mexe a anca de forma própria para o que a biologia lhe ditou está dispensado de se lavar como deve ser (até porque não vai apertar a mão a semelhantes criaturas);
- o Center for Disease Control and Prevention já recuperou das atrocidades nazis que proferiu aquando do aparecimento da SIDA (essa enfermidade que era “cancro gay” – sim, sim, tem-se visto!), porque volta a poder recomendar água e sabão (é só o começo do “Control”, provavelmente) e a ter destaque noticioso num dos mais importantes jornais norte-americanos;
- o que sempre assustou mais na SIDA foi o que menos morreu, porque está vivinho da Silva e, como é fácil de ver, vivinho de Bush, pois não há como negar - ou seja, a imperiosa ordem: "se gay é, vá morrer a outro lado e não infeste".
Bravo!!!!!!!!
PS - Thanks, love, for your precious information.

sábado, 12 de janeiro de 2008

Respondes, Vasco!!??


Vou limitar-me a perguntar ao Vasco, excessivamente Polido (com "ó"), mas muito pouco Valente. As perguntas são, obviamente, retóricas na desilusão que contêm.

Público – 5 de Janeiro de 2008
“O fanatismo da intolerância”

“O Governo socialista de José Luís Zapatero resolveu suprimir o ensino religioso, facilitar o divórcio e permitir o casamento de homossexuais”.
Perguntas:
Porque será, Vasco!!?? Não queres que deixemos mesmo de ser (Vascos) Santanas (Lopes) e passemos à frente!!?? Dá para perceberes, Vasco, que um país como o que costumas defender, de forma tão (falsamente) crítica, só pode mesmo existir se atender às necessidades de quem o constrói!!??

“Dentro do seu papel e do seu direito, o arcebispo de Madrid e o arcebispo de Valência convocaram uma pequena manifestação de protesto (160.000 pessoas) contra a “cultura do laicismo” e contra leis que alegadamente contrariam o “matrimónio indissolúvel” e a “transmissão da vida”.

Perguntas:
Não era melhor começares a usar uns óculos que te fizessem ler melhor, Vasco!!?? “Dentro do seu direito”, Vasco!?!? Reitero: “direito” !!?? Leste, Vasco, que Zapatero, ele sim, apenas defendeu o direito a ter direitos, inclusive o de não ir nestas palhaçadas!!?? 160.000 pessoas é uma “pequena manifestação”!!?? Os fiéis costumam juntar-se em protesto!!?? Onde!!?? Não é geralmente para rezarem e dizerem “ámen” que se juntam!!?? E não era melhor que se limitassem a fazê-lo nos seus templos sem virem para as ruas impedir os direitos de outrem!!?? Tens aí o teu cartão de associado da Associação Portuguesa de Famílias Numerosas, Vasco, para a gente ver como ficaste na fotografia!!??

“Em Espanha e na “Europa” inteira, ninguém se lembraria de criticar ou de inibir manifestações contra o ensino religioso, pela facilitação do divórcio ou pelo casamento de homossexuais. Como ninguém se lembra de criticar ou de inibir manifestações por formas de autonomia nacional que roçam, ou até entram pelo separatismo”.

Perguntas:
Tu escreveste isto em que planeta, Vasco!!?? Além de incapaz de ler, andas incapaz de pensar no que estas a dizer!!?? Tu sabes mesmo o que estás a dizer!!?? Quantas garrafas de álcool, quantas chávenas de café e quantos cigarros (esses, que o país em que vives, e outros das "democracias", te proíbem!) engoliste tu antes de escreveres isto!!?? “Ninguém se lembra”, Vasco!!?? Brincamos, Vasco!!??

“As democracias, como se sabe, produzem com facilidade aberrações destas. Quem não gosta, que se arranje ou se afaste. O papa Ratzinger previu para a Igreja uma era de quase clandestinidade. Provavelmente, não se enganou”.

Perguntas:
Achas que as comichões insuportáveis e os enjoos que estou a sentir podem ser efeito das tuas palavras, Vasco!!?? “Aberrações”!!?? Quais: as que escreves!!?? Quando os bispos se juntam para endoutrinarem, estão a fazer o quê às democracias, Vasco!!?? A salvá-las das “aberrações”!!?? Espera aí: estou mesmo baralhado ou achas que é impressão minha!!?? Se eles, os bispos, não gostam afastam-se ou juntam 160.000 pessoas!!?? Ajudas-me a perceber isto!!?? O papa “previu clandestinidade”!!?? Qual, Vasco!!?? A que os continua a fazer ter o maior número de fiéis no cômputo das religiões!!?? Ah, espera, ajuda-me lá: a aberração dos sodomitas, a das mulheres não-reprodutivas, ou a de um ensino imposto!!?? Ainda tens olhos, Vasco, para notar que os símbolos religiosos que nos impingem são sempre cristãos, que os céus se iluminam à noite de cruzes que enchem as cidades, que procurar outros símbolos que não sejam os de Nossa (minha não) Senhora e de Nosso (meu não) Senhor Jesus Cristo é como catar agulhas em palheiros!!?? "Não se enganou", Vasco!!?? Quem é que se engana aqui, tu ou o papa!!??

Última pergunta:
Queres uma consulta para avaliarmos o teu grau de demência, Vasco!!??

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Acreditar a acreditar


Eis que mais uma vez a dupla nos presenteia. De um tão magistralmente desenhado universo que podemos esquecer muitas das coisas más que nele existem. Pierre e Gilles levam-me sempre a um torpor que me delicia, que me emoldura os recantos deliciosos da contemplação da imagem, que nos transforma as categorias de que às vezes nos socorremos para limitarmos os horizontes. Sem género estrito, porque em estritas visões já ele não cabe; sem sexualidades impostas, a não ser que a elas nos queiramos - é de direito - impor na força das imagens; sem humanidade retraída, se os sentidos nos transportarem às mais diferentes iconografias humanas (que, com estes dois senhores, sempre embelezadas foram num império de etéreos). Aos dois devo muita da minha convicção nas convicções que me assistem. Ajudaram-me a crescer acreditando mais na possibilidade de dar beleza ao que me desperta o corpo e alma.
E não falo dos corpos delineados, nem da perfeição provocada aos seus elementos, nem do menino ou do homem escolhido como modelo, nem de vulgares desejos que, mesmo sem Pierre e sem Gilles, são os mais fáceis e menos artísticos que podemos viver. Falo dos universos para lá do universo em que os inscrevem, numa constelação de sonhos que nos tranquilizam e apaixonam. Porque neles gostaríamos, pelo menos num ínfimo instante, de assentar um pé para descansar do mundo. Para olharmos para nós como seres que às vezes gostam de ser retocados.
No campo quotidiano de mensagens tão violentamente esmagadoras da beleza que existe no que é humanamente rico, porque fotografado e retocado nas diferenças que deixam de o ser, mais uma vez são, pois é inevitável, muito, muito bem-vindos. Pelo menos para mim, que acredito no poder que o desfolhar de um livro e o deambular pelas imagens que nele se podem imprimir nos ajudam muito a acreditar a acreditar.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Cada vez MENOS católico



Antes de mais: sou baptizado, frequentei a catequese, fiz a primeira comunhão. Antes de mais: como a maior parte dos Portugueses, não escolhi tais incursões – foi o que queriam que eu fizesse, porque os filhos dos amigos dos pais o haviam feito, porque a discriminação era garantidíssima se o não fizesse, porque até ter idade para escolher havia interiorizado que assim teria de ser. Depois escolhi: não entrar mais numa igreja, não permitir que me chamassem católico, sobretudo escolher ser QUASE tão radical como as porcarias que a Igreja sempre se sentiu no direito de dizer de pessoas – não-heterossexuais - como eu. Ainda assim, fui pouco radical, ao que se vê, quando se tem em conta palavrinhas tão bonitas como as que os monsenhores espanhóis andam a proferir. Pois claro está que, também eu, defendo o DIREITO A TER DIREITOS, inclusive o de ser católico. Zapatero não poderia, provavelmente, tê-lo dito mas a Igreja espanhola não está a afastar-se da democracia – está a fazer bem pior: a condená-la. Começo também a duvidar que a convivência ideológica seja profícua, enquanto aberrações destas continuarem a existir num espaço de diálogo (!?).
E claro está que os espanhóis vivem isto, porque apenas eles fizeram na Europa dos últimos tempos o que mais ninguém se atreveu a fazer. Ponha-se Portugal ao mesmo nível (ok, passo a ingenuidade) e vamos ver o que dizem os nossos monsenhores! Há-de ser uma bênção! Sim, sim…