terça-feira, 18 de novembro de 2008

La Raina muy de Lejos!


Sua (obviamente não minha, mas de quem a quiser!) Majestade, a Rainha D. Sofia, estava desejosa de ser contemplada neste Blog. Mostrou-o nos factos das suas majestosas palavras (o problema é mesmo esse, terem sido majestosas) sobre vários assuntos, tendo eu ficado majestosamente encantado com dois: a violência doméstica e o casamento entre pessoas do mesmo sexo. São, entre outras, duas pérolas brilhantes que lhe ficarão na coroa. Quanto à violência doméstica, o brilho da pérola é a sua insistência na (ignorante e, portanto, conivente) alegação de que há insistência sobre o assunto por parte da comunicação social. Não admira: são setenta anos em que a senhora se habituou à violência privada de se fazer, com os seus, tão privada. Para depois se fazer pública a dizer o que não deve, quando governa um dos reinos onde mais mortes se contam entre paredes, umas mais faustosas, outras menos, mas todas elas infelizes, por definição. Argumenta a monarca que falar-se sobre o assunto, “pode ser contagioso, dando-se ideias a outros que imitam” a barbaridade. Sendo assim, há que depreender que também a sua querida família, que mesmo estando no trono não deixa de ser humana, está sujeita às tais imitações, a ter ideias que não deve, a contagiar-se. Falta saber, em potencial de contágio e de imitação, quem agredirá quem (embora isso não interesse para o caso, que é mau em qualquer caso): Letícia, Filipe, Juan Carlos, os rebentos e a própria Sofia estão aptos, a qualquer momento em que leiam um jornal ou liguem a televisão, a atirar sobre outrem, a espancarem-se, a serem pérolas monárquicas do contágio. Lá saberá a rainha que ideias e/ou que actos se têm desenvolvido entre as paredes do Palácio Real!
A dita senhora consegue, pelo menos, ser consistente com o que diz. Porque na mesma linha de pensamento opina sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Que se durma na mesma cama quando se tem “outra (?) tendência (?) sexual (?)”, mas que se fechem as cortinas para que Espanha mantenha o decoro. Diz que não empatizou com Aznar, o que me leva a imaginar que deve sua Majestade correr riscos bulímicos quando se acerca de Zapatero. Indignada porque há quem sinta orgulho por ser gay (a gente percebe, porque orgulho é coisa que nunca caberia a uma Rainha!), porque os gays sobem para um carro e saem em manifestações (a gente percebe, porque subir a um carro e ter milhares de acenos manifestantes de embevecimento é coisa que nunca caberia a uma Rainha!), porque se vestem de noivos e se casam (a gente percebe, porque vestidos de gala e caudas gigantescas de casamento são coisas que nunca caberiam a uma Rainha!), a pobre (de espírito, como é óbvio) deve a-do-rar o José Luís, ainda mais quando diz que tudo isto vai contra as leis do país que lhe veste a coroa, leis que o José Luís em nada suportou!
O assunto esgota-se no maior favor que a Rainha começa por fazer a si mesma e, em seguida, a quem tem dois dedos de testa (que é coisa fácil perante a dela, imensa em extensão, minúscula em serviço): o favor de dizer que “se todos os que não somos gays saíssemos em manifestação… entupiríamos o tráfego”. Ó Sofia, a questão é que já entopem: o tráfego, as vontades homofóbicas como a tua, os números das mortes acontecidas sobretudo entre os únicos casais que reconheces como dignos de tal nome, a montanha de violências sobre gente que tem tanto direito a vestidos como tu e, talvez acima de tudo, as filas para compra do livro em que acedeste expor (para mim, em jeito de Real violência pública) as baboseiras com que nos presenteaste.
God Shave the Queen!

2 comentários:

DomingonoMundo disse...

Não me admira o posicionamento da coroa (em brasileiro), mas há outra personagem a destacar: a assinatura de Pilar Urbano. A coisa está a despertar polémica em Espanha mas, ao que me disseram, a questão está no que a D. Sofia afirma não ter dito. É que estas afirmações correspondem à posição da opus dei, perfilhadas por Pilar, que diz que a coroa (em brasileiro, novamente) disse isto mesmo, mas que a escriba "emendou o estilo". Ou seja, uma confusão absoluta, que dá também a pensar no poder de algumas organizações obscurantistas por terras de nuestros hermanos... E na nossa?

Nuno Santos Carneiro disse...

O agradecimento habitual pelos sempre pertinentes comentários. Sabia desta dúvida sobre a veracidade da verborreia monárquica, mas se não disse, está a atrasar-se em dizer que não disse e, por isso, merece que se diga aqui o que (parece) que possa ter dito. Pela gravidade dos conteúdos, mesmo que vindos de quem, a priori, se espera que possa produzi-los. E a razão ao desmentido acresce, para que a gente se surpreenda com as suposições (sendo já uma suposição de que não vamos surpreender-nos).
Um abraço.