sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Um Armário Chamado Simone


“Esta semana, durante um jantar no restaurante Põe-te na Bicha, de que é assídua há décadas, Simone [de Oliveira] desgovernou uma conversa sobre memórias e outras sexualidades”.
E se desgovernou! Tudo! E tudo o que não fez foi pôr-se na bicha. Se se tivesse posto (salvo seja!), saberia que bicha que é bicha se governa bem melhor sem pessoas como a senhora.

“Porque é que os homossexuais gostam tanto de si? Isso gostava eu que me explicassem”.
A única coisa que lhe explico, minha senhora: eu detesto-a. Explicar mais do que isso é pôr-se contra a bicha, que felizmente não se explica.

“Sempre existiu [admiração dos homossexuais por mim], fui sendo adoptada”.
Eu nunca sofri de semelhante mal, que tenho bem mais para admirar. O que me admira é que não saiba que pessoas como a senhora são péssimas para adoptar. Fez-lhe mesmo mal ter crescido e olhe que se me deixassem adoptar faria tudo para que as minhas filhas ou filhos não fossem como a senhora.

“Convivi muito com esta gente, fiz grandes amigos e amigas no bas fond”.
Esta gente!? E a “outra” gente, quem é!? Imagino que tenha mesmo sido no bas fond, que é palavra que soa bem, mas nota-se que a senhora nunca saiu de lá.

“Há uma coisa que me faz confusão na palavra gay. Gay, em inglês, quer dizer alegre. Isso é rigorosamente mentira. Se há gente triste são os gays. Uma tristeza, uma solidão, uma coisa… Não são os homossexuais, são os gays”.
A senhora é A confusão, não a palavra! Triste é a sua existência, querida senhora, para qualquer pessoa - gay, homossexual ou qualquer outra – que não tenha ficado no bas fond.

“Homossexual é o homem que gosta de homens. Gay é um homem que gostava de ser mulher”.
A senhora é um prodígio! Trate da esclerose, que se começa a notar!

“[As pessoas que se assumiam publicamente] naturalmente, viviam melhor do que hoje, em que se fazem aquelas paradas, aqueles desfiles ridículos. Aquilo não é nada. Aquilo é um dar nas vistas, é fazer brincadeiras de mau gosto”.
A senhora sabe que até 1982 viviam tão bem que acabavam na cadeia? A senhora sabe que no Estado Novo (que tanto mal lhe fez a si, segundo diz) eram encarcerados como “vadios” nas mitras e na vida? Não foi a senhora que falou em bas fond, onde fazia amigos? E os que vinham para a rua, eram seus amigos? Se eram tenho imensa pena deles, porque a tinham a si, isso sim, parada e ridícula. Olhe que falar do que não se sabe e sobretudo do que não se sente é que é brincadeira de mau gosto!

“A noção que tenho é a de que não há nenhum homossexual que não tenha tido uma grande paixão por uma mulher, diz-me a experiência”.
Tão parada e tão ridícula que NÃO TEM noção! A experiência disse-lhe muito pouco, porque há imensos gays sem nehuma confusão. Ou melhor, com imensa confusão à custa de pessoas como a senhora, mas muito certos de que sempre foi pelos homens que tiveram grandes paixões. A noção, minha senhora, é que não podiam, porque o mundo está cheio de Simones.

“E mais não sei”.
Pois não, porque não sabe nada!
Mas vá, não se ponha na bicha. Ponha-se no “País chamado Simone” e, por favor, não saia de lá, que pena foi ter saído.
A bicha sai, felizmente, de armários como os que a senhora nos dá.

A gente também agradece se não se armar.

8 comentários:

Anónimo disse...

Não é preciso comentar desta forma uma entrevista de que não se gostou. É muito azedume. Não se deve falar assim de ninguém, goste-se ou não da pessoa em causa. É falta de educação, para não dizer outra coisa.

Anónimo disse...

A Simone teve uma vida de certa forma priviligiada.Sempre actuou em bares com uma clientela gay e lésbica.Teve e tem amigos gays e lésbicas,a maior parte de armário que fingem ser o que não são.É uma pessoa nestas questões mal informada,e a culpa não é só dela é também dos gays e lésbicas que a rodeiam muitos(as) deles(as) muito conservadores.Lembro-me por exemplo
aqui há uns anos,de andar a distribuir comunicados em bares,e fui ao Memorial na altura gerido pela Dina (cantora) que não nos deixou entrar,e que se insurgiu comigo por o comunicado ter a palavra Lésbica,porque ela dizia que não era lésbica era homossexual feminina,e a discussão foi feia e agressiva,como se eu a tivesse a insultar.Ainda há muito a fazer pela mudança de mentalidades ao nível dos gays e lésbicas,apesar de estarem já bem melhores.

Nuno Santos Carneiro disse...

Car@s Anónim@s:
é pelas pretensas "educações" que a homofobia e o heterossexismo sabem, muitas vezes, entranhar-se até aos ossos. Ainda assim, um agradecimento pelos comentários.
De acordo com o segundo comentário. Na tentativa de alguma contra-corrente à instalação destas atitudes, que certamente podem vir d@s própri@s gays e lésbicas, é que escrevi o que escrevi. Mais não fosse, tinha servido escrever para que as reacções surgissem.
Cumprimentos.

Anónimo disse...

Acho legítimo não gostar. Acho no entanto curioso que utilize a palavra detestar...
Há de facto algum exagero nos termos que utiliza e que não eram necessários...
A imagem que Simone tem dos homossexuais é a imagem dos seus amigos homossexuais... E desses, já disse Simone, que tem uma imagem de tristeza e de solidão. Uma solidão que não é de ficar fechado em casa, é a de se sentir só no meio da multidão... A imagem que tem dos gays é exactamente o que encontrou ao longo da vida, na noite de Lisboa! Vidas eventualmente perdidas e muitas vezes evidentemente vividas numa espécie de getho.
Percebo a razão da sua divergência com Simone. Só não percebo, porque é que não entendeu a razão dessa divergência....

Anónimo disse...

Também não sou um apreciador de Simone, e como tinha lido a entrevista dela à TIME OUT, cujo link junto
http://timeout.sapo.pt/news.asp?id_news=1083
li com curiosidade o seu comentário.
De facto deve mesmo detestar a pobre senhora, pois dá um relevo exagerado e descontextualizado ao que lá está escrito...
Por exemplo a expressão "Esta gente", começa por ser utilizada pelo entrevistador, e depois ela também a utiliza no meio da resposta, não possuindo, por isso, o sentido de desdém que no seu texto parece estar imbuído.
Concordo com o comentador anterior, uma coisa é não gostar outra é detestar... Mas você, pelo que escreve e como manipula o texto da entrevista, vê-se bem que a detesta, por isso utiliza bem o termo que descreve o seu sentimento. Contudo o seu texto não é justo nem correcto com a verdade do pensamento da senhora.
Um abraço.
Paulo Borges

Nuno Santos Carneiro disse...

Aos dois estimados leitores, Carlos e Paulo, antes de mais, o agradecimento pelos comentários. A razão da divergência reside no facto de a senhora versada representar o que tanta gente diz, talvez de forma sentida, mas que em meu entender diz mal por "varrer" à sombra de clichés a diversidade inerente a qualquer orientação sexual. Perceber o heterossexismo é perceber que estas redutoras visões são a manutenção da incapacidade de aceitar genuinamente a diferença que em todas as diferenças existem. Entendo sempre isto como muito mais exagerado do que o meu "exagero".
Se o pensamento da senhora é mais justo, então que o faça valer como tal. Mesmo sabendo que nem sempre se pode ser feliz no que se diz numa entrevista, isso não justifica que se possa dizer, generalizadamente, que os homossexuais não são felizes.
Este blog vive, assumidamente, da subjectividade que lhe assiste.
Ainda assim, como digo, agradeço os comentários e assim se faz, em meu entender, a democracia dos olhares sobre mundo: confrontando e tendo direito à divergência de opiniões.
Cumprimentos sinceros aos dois comentadores.
Nuno Santos Carneiro

Anónimo disse...

Sou homossexual e pela minha própria experiência sei que não há visões únicas sobre nenhum assunto e muito menos sobre a homossexualidade.
Nem sobre a utilização da palavra GAY, nem sobre as chamadas gay parades, nem sobre o "sair" ou "não sair do armário".
Se tudo isto é controverso, entre homossexuais, muito mais o será para qualquer heterossexual, como é o caso da artista em questão.
Depois há ainda diferenças geracionais que têm de ser também levadas em linha de conta.
Percebo claramente o ponto de vista do autor deste blog, mas do mesmo modo acho perfeitamente naturais as opinões que a Simone de Oliveira expressou.
Ainda que ela erre ou tenha opiniões mal fundamentadas sobre uma questão como a homossexualidade, que não lhe é intrinsica, isso não a diminui enquanto pessoa, ou enquanto artista.
É um ser humano e pode errar como qualquer outro. Para alguns homossexuais, no entanto, ela até estará certa, pois já ouvi a muitos expressar esse tipo de opiniões. Principalmente homossexuais mais velhos... Penso que ela se limita a reproduzir a realidade que conhece.
Parabéns ao autor blog por ser polémico e interessante. E parabéns à Simone por uma carreira tão longa e tão brilhante...

Nuno Santos Carneiro disse...

Dúvidas não restam que est@ últim@ leitor@ anónim@ tem capacidade para a conciliação de pontos de vista. Quanto ao resto, acho que já esgotámos o assunto.
Cumprimentos e bem-vind@.