domingo, 9 de dezembro de 2007

Uma carta para o deus

Esquisito deus:
Escrevo-te porque sei que sou muito pequenino quando Amo, mas já não acredito no Pai Natal. Desculpa chamar-te esquisito, mas também não costumo confiar em ti. Chamam-te sempre com uma letra grande, mas eu chamo-te deus, com letra pequenina, porque é sempre melhor. Porque tenho medo que o teu concorrente faça das dele, como algumas vezes fez na minha vida.
Venho só pedir-te coisas que acho que me podes dar. Pode ser que assim me deixes menos desconfiado de ti. São coisas boas, que eu gostava de ter, se tu me deixares. Mas que eu acho que posso ter se eu me deixar ter e se tu estiveres ao meu lado, porque sempre achei que és tão pequenino como eu. Se fores muito grande, eu já não gosto tanto de ti.
Queria, primeiro, que me dissesses porque é que eu não entendo o que não se pode entender. Queria que me deixasses dar sempre muitos beijinhos ao menino da minha idade que costuma ficar aqui em minha casa. Se tu existires, porque dizem que tu sabes tudo, deixa-me só não perder os abraços apertadinhos que ele me dá. Queria que me deixasses saber que ele cheira sempre muito bem. Mas olha, não me deixes saber porque é que ele nunca deixa de cheirar bem. Está bem?
Queria, também, que me deixasses entrar no novo ano com mais vontade do que já tenho de dar mais beijinhos ao menino que vem cá a casa, de conversar muito contente com ele, de o ajudar a tratar de umas feridas pequeninas que ele tem, de lhe pedir para ele me ajudar a tratar das minhas, que são tão pequeninas como as dele. Se sabes tudo, ensina-me só um bocadinho a não ter que ser ensinado.
E também queria que lhe desses a ele a alegria de conseguir o que te pediu todos os anos. Ele só te pediu para ter alguém tão pequenino como ele para lhe dar beijinhos, o ajudar, conversar com ele e se esquecer que tem feridinhas. Isso tu não sabes, mas ele tem as pestanas mais lindas do mundo. E elas são ainda mais bonitas quando me dá beijinhos, quando me abraça, quando conversa comigo e quando nós tratamos das feridinhas que nós temos.
Se me deres isto, eu se calhar acredito mais em ti. E até podes deixar de ser esquisito. Eu acho que nunca te vou chamar com uma letra grande, mas posso gostar mais de ti. E olha, não te importes se eu gostar menos de ti do que dele. Está bem?

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