quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Amores e Lua


Dois anos fazem-se de meses que se desdobram em dias e em horas. Fazem-se das imperfeições e das maravilhosas descobertas do quanto alguém pode representar-nos a perfeição. Que é sempre humana e por isso, pois, inventada no que o coração quer dar-nos de engano à imperfeição. Dois anos são o ventre simbolizado do que dois seres amados querem gerar, do que podem gerar, dos medos que a pouco e pouco querem abortar para que o fruto lhes caia nos braços com um encanto crescente. Dois anos são a vida que cada um pode neles colocar, mas são também a contenção do que não se quer gratuitamente gerado, como um dos dois amantes foi capaz de afirmar. Dois anos são-nos a igualdade, esteja ela em papel ou não, esteja ela sempre no desejo do coração. Dois anos são-nos a diferença, trazida ao seu máximo esplendor na aceitação a que os dois amados se obrigam, à espera de que não se obriguem. Somos assim, nós, estes dois e o que de nós nasce já para além de nós. Somos os dois anos de amor, os vinte e quatro meses de sol e de chuva, os 730 dias de incógnitas diminuídas, as 17520 horas de presença e de ausência tão necessária quanto saudosa e os milhões de minutos que dois anos fazem esquecer como terão sido, sem esquecer que o foram. Porque os homens não são promíscuos se não quiserem (apesar de poderem) sê-lo, porque podem desejar-se ardente e construtivamente, porque casam de muitas maneiras. Mas sempre válidas estas formas todas de casar, se os anos, os dias, as horas, os minutos e os segundos souberem tiritar na vida que um papel nem sempre promete ou consegue honrar, mas que sempre existe em vida como prova mais cabal de que o amor não tem que ter sexo nem género. Perceber isto será, certamente, deixar o mundo (e quem o constrói na melhor das esperanças) no sossego prateado de uma lua como a que hoje, tão cheia, brindou aos anos que quisemos celebrar.

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