Não acredito que alguém possa escrever o que não vive. Não acredito que alguém possa escrever por dentro sem a pulsação arrepiante do que vem, em maior ou menor distância, do que acreditamos ser por fora de nós. Entendi hoje que o sono me é pulsação e arrepio dos mais vívidos: o de nos deixarmos partir ao abandono de nós, na exacta medida em que deixamos partir ao abandono quem amamos. O sono revela-me muitos dos porquês da escrita: ou porque nos mantém vivos no desespero de não o alcançarmos, ou porque nos certifica que o desejamos intensamente quando conseguimos que seja repousante, ou porque nos leva a esquecermo-nos dele quando nos repôs grande parte da vida, ou porque nos obriga ao abandono de quem mais amamos para que dormindo esteja ainda mais connosco.
O sono torna necessariamente diáfana a fronteira entre o que está por dentro e o que está por fora de nós. Porque a voz arrastada que o prepara pode às vezes fazer pulsar muito mais do que algumas das vozes que vigilantemente produzimos. No abandono mutuamente consentido. No fim do desespero que anuncia. Na estreiteza dos braços superficialmente inertes mas profundamente entrelaçados. Ou nas fronteiras que apostarmos em dissolver.
Para que eu continue a acreditar no porquê de muitas escritas.
O sono torna necessariamente diáfana a fronteira entre o que está por dentro e o que está por fora de nós. Porque a voz arrastada que o prepara pode às vezes fazer pulsar muito mais do que algumas das vozes que vigilantemente produzimos. No abandono mutuamente consentido. No fim do desespero que anuncia. Na estreiteza dos braços superficialmente inertes mas profundamente entrelaçados. Ou nas fronteiras que apostarmos em dissolver.
Para que eu continue a acreditar no porquê de muitas escritas.
Chíuuuuuuuuuuuu...
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