sexta-feira, 9 de maio de 2008

Feitiço Viagra


Pode certamente haver lucidez amorosa e mérito em “amar um devasso” ou uma “devassa”, se se preservar o amor e se se souber o que se quer fazer com a devassidão. Estou apaixonado por esta lúcida e meritória mulher, leitora que escreve a um diário norte-americano! Leiam lá e digam se não nos dá uma lição de feminismo? Machista é o que a pastilha lhe inflige, como a tantas outras mulheres, sobretudo se desejado mais o repouso do que o desejo. Tal como se inflige machismo a tantos outros homens, orientações sexuais à parte, que prisioneiros se quedam de (eventuais) benefícios do medicamento, não vá o gasto (económico, fisiológico, narcísico, performativo…) ser em vão.
Admitindo que às vezes possa ser um motor de arranque, que sobretudo sirva o fármaco para ouvirmos mulheres (ou homens) que falam assim.

É que não vá o feitiço voltar-se contra @s feiticeir@s...

Tenho 62 anos e sou mãe de seis filhos, hoje adultos. Há dois anos, quando comecei a constatar a diminuição do ímpeto do meu marido, que tem 64 anos, tive uma imensa alegria. E o que foi acontecer? Inventaram um medicamento chamado Viagra e eis que o devasso do meu marido voltou ao activo. Amo-o muito, mas acho que já merecia bem um repouso. Sem contar que o medicamento custa dez dólares o comprimido e, só na semana passada, tomou quatro!
Courrier Internacional – Número 146 – Abril de 2008

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