domingo, 25 de novembro de 2007

Faz-se Falo. Faz-se Branco. Faz-se SIDA.



Compreender-se-á o que há de desconfortável na morte (…) quando ela sobrevém num lugar tão árido.
Albert Camus - A Peste
Corre-lhe nas veias a força da denúncia. Porque lhe corre nas veias o nefasto sangue. Cozinha: nem esse é o teu lugar. Hotel: menos ainda. És abjecto. Cidadão não. Sangue sim. Suor e lágrimas, nunca. Despeça-se, faça as suas contas. Mais fácil ainda: acabou o seu contracto. Desfez-se o vínculo. Trouxe-se o imaginário social às bancas. Bem feito, porque fez o que não devia, embora quase tod@s o façamos, a não ser que não nos apeteça. Mas nós fazemo-lo limpo. @s outr@s, nem sempre. Desfez-se a pessoa. Fez-se e faz-se Falo.


Perigo! Coitadinhas das crianças se correm o risco de apanhar semelhante porcaria. Em casa, não. Não apanham porcaria nenhuma. Quando as levamos a comer fora sabemos sempre quem cozinha. Nós sabemos sempre o que comemos. Por isso nos dói a alma, às vezes. Quando comemos quem não devíamos ou quem devíamos e a vida nos corre mal. Mas estamos sempre seguros. @s outr@s nem sempre. Despede-te. Ficamos descansados. Tu nem por isso, mas nós sim. Os números são para vos enganar: não, não, é tudo mentira. Essa coisa de os números crescerem, sem cor, sem raça, sem sexualidades, sem dinheiro em causa. Tudo mentira. Os senhores doutores juízes sabem sempre o que dizem. Mas a ciência não diz isso. Não interessa! Cala-te! Despede-te! Já há muito tempo que é assim. Há demasiado tempo que é assim. Fez-se e faz-se Branco.

Cada pessoa por si mesma. Descansada. Desatenta. Melhor que as outras. Porque se faz falo. Não pessoa. Porque se faz branco. Porque continua a fazer-se branco sobre o cinza que nos rodeia. O lugar é árido. Ainda muito árido. A morte mais desconfortável: porque a espreitar em cada cozinha, em cada hotel, em cada lar, em cada um@ de nós. Fez-se e faz-se SIDA.

Sem comentários: